"O Homem Que Copiava" será lembrado como um dos melhores filmes nacionais deste ano. O longa, que chega aos cinemas brasileiros nesta sexta-feira, 13 de junho, - com ampla distribuição da Columbia/Tristar e apoio da Globo Filmes - traz uma história completamente diferente de tudo o que já foi visto no cinema nacional, tendo como fio condutor algo que é desejado por 100% dos habitantes de nosso país subdesenvolvido: o dinheiro.
O protagonista André (muito bem interpretado por Lázaro Ramos, que já fez "Madame Satã" e "Carandiru"), que também é o narrador do filme, tem 20 anos e trabalha numa papelaria como operador de fotocopiadora, ganhando pouco mais de 300 reais por mês. Após pagar as contas do apartamento onde vive com sua mãe, lhe resta cerca de 10% desta quantia para seus gastos pessoais. Por essa razão, ele não costuma sair à noite. Vive em seu quarto, dividindo seu tempo entre desenhar histórias em quadrinhos e observar com binóculos uma garota que mora em um prédio próximo.
Esta é Silvia (Leandra Leal, de "A Ostra e o Vento"), garota de 18 anos, por quem é apaixonado. Ela gosta de ler, mora com o pai e trabalha como balconista em uma loja de roupas. André passa a seguí-la, a fim de conseguir um primeiro contato, e entra na loja em que ela trabalha com a desculpa de que quer comprar um chambre de chenile para sua mãe. O presente custa 38 reais, que ele não tem. Surge então seu primeiro desafio no filme: ele precisa desesperadamente de 38 reais para comprar o chambre e continuar sua conversa com Silvia.
A colega de trabalho de André é Marinês (Luana Piovani, que dispensa maiores apresentações), garota muito bonita, que sabe disso, e quer se arranjar com um homem que tenha dinheiro. Ela sai com Cardoso (Pedro Cardoso, bastante conhecido atualmente por seu papel no seriado global "A Grande Família"), que não atende a estes quesitos. Ele trabalha em uma loja de antiguidades e vive disfarçando sua pobreza se vestindo como um "boa pinta" e inventando lorotas sobre si mesmo.
Certo dia, o chefe de André traz para a papelaria uma máquina que faz cópias coloridas, um novo equipamento que ele deverá operar. No mesmo dia, o patrão também lhe dá uma conta para pagar no banco com uma nota de 50 reais. A tentação de copiar o dinheiro na máquina é grande, afinal assim ele poderá comprar o chambre e retomar seu contato com Silvia. Mas será que a cópia ficará aceitável? Onde ele poderá trocar o dinheiro sem dar a bandeira de que é falso? Será que alguém vai ficar sabendo? Os dilemas do protagonista começam a aumentar. Ele tem outros planos para conseguir dinheiro. E todos dão certo. Falando assim, até parece que tudo ficou uma maravilha em sua vida, mas não ficou. Ele precisa enfrentar muitos obstáculos para desfrutar do dinheiro que adquiriu.
A beleza que se vê na tela do cinema durante a exibição de "O Homem Que Copiava" é de responsabilidade de um homem chamado Jorge Furtado, diretor e roteirista do longa. Envolvido com o cinema nacional desde a o começo dos anos 80, Furtado teve seu nome bastante conhecido nesta área após finalizar "Ilha das Flores", o melhor curta-metragem brasileiro desde sempre. Todo mundo já deve ter visto este filme na escola, durante uma aula de biologia. "Ilha das Flores" mostra o trajeto de um alimento (no caso um tomate) desde seu cultivo até ir para o mercado, ser comprado, rejeitado para alimentação de uma família de classe média, virar lixo, ser mandado para a Ilha das Flores (um dos depósitos de lixo de Porto Alegre), onde é novamente rejeitado pelos porcos e depois servir de alimento para famílias de miseráveis.
Este curta chocante traz muitos elementos que depois se tornaram constantes no estilo criado por Furtado. Um deles, é o uso de animações para complementar a história que está contando. Em "O Homem Que Copiava", um personagem que André desenha em seus quadrinhos aparece no decorrer da história. A animação foi criada por Allan Sieber (o autor do quadrinho "Vida de Estágiário", publicada no caderno Folhateen) e sua produtora, a Toscographics.
Outra característica típica de Furtado é, durante a locução, explicar determinados termos que estão sendo falados, fazendo uso de animações com recortes - algo constante em "Ilha das Flores" e em trabalhos que realizou para a TV, como "Caramuru, a Invenção do Brasil", por exemplo.
Apesar de ser uma comédia (com toques de drama), "O Homem Que Copiava" traz para sua narrativa o fator social, que é muito comum nos filmes brasileiros da 'Retomada do cinema nacional'. Boa parte dos longas surgidos após a 'Era Collor' podem ser enquadrados como denunciativos da situação atual dos brasileiros. No filme em questão, os quatro personagens principais, são pobres e nutrem sonhos que dependem de dinheiro para realizá-los.