É só olhar em volta. No programa das salas vizinhas, em Londrina, Curitiba ou Maringá. Só dá quase título norte-americano. E de qualidade no mínimo suspeita exceções óbvias para ''Fahrenheit 11 de Setembro'' e ''Shrek 2'', que continuam em exibição.
No caso de ''Viva Voz'', o lançamento é consequência emblemática de uma situação tristemente consolidada ao longo dos tempos: o cinema brasileiro chegando às salas em flagrante desproporção, em inferioridade numérica. O quadro em sua semana de estréia é bem significativo: de quatro novos lançamentos, três falam inglês e são estréias nacionais. O quarto, o que fala português, chega às três principais cidades do Estado quase três meses depois de exibido nas capitais do país.
Alguém pode argumentar que a situação vem mudando, que no rastro da histórica retomada da produção e da adesão popular o espaço para os nossos está aumentando, etc, etc.
É até verdade, mas ainda é pouco e insatisfatório neste mercado-selva, principalmente quando se sabe que os títulos feitos aqui na terra vêm obtendo cada vez maior cumplicidade do grande público, que descobriu, por exemplo e pode confrontar e confirmar nesta semana cinematográfica que nossas comédias ligeiras de costumes sobre nós podem ser bem superiores às comédias ligeiras de costumes realizadas em Hollywood sobre eles (''Viva Voz'' ou ''Os Normais'' ou ''Sexo, Amor e Traição'' versus ''Rainhas da Noite'').
E cinema consumista por cinema consumista, o retorno de bilheteria para o ''made in Brasil'' não só alimenta a necessária engrenagem capitalista que gera novos produtos como também pode significar cada vez mais o encontro nas telas com aquela decantada identidade nacional.
Para se ter uma idéia da aventura que é colocar no circuito interno uma produção brasileira, acompanhem a trajetória de ''Viva Voz'', comédia urbana escrita, dirigida, montada e produzida por Paulo Morelli para a O2 (onde é sócio de Fernando Meirelles), a mesma produtora de ''Cidade de Deus''.
Morelli, que estreou na direção em 1999, com o épico ainda inédito ''O Preço da Paz'', realizado no Paraná, fez publicidade e televisão antes de chegar ao cinema. De gestação complicada, ''Viva Voz'' custou R$ 2,5 milhões e foi realizado em 2001, mas só conseguiu lançamento no Brasil em maio de 2004.
Neste meio tempo ''Viva Voz'' foi visto no exterior, em diversos festivais internacionais do Cinema Brasileiro em Paris, no Latino de San Diego, no Latino de Chicago e no Internacional de Istambul. E levou o prêmio de melhor filme estrangeiro no Festival Internacional do Filme Independente de Nova York.
''Viva Voz'' é comédia urbana na linha ''sitcom'' sobre as desventuras de Duda (Dan Stulbach), empresário prestes a dar uma guinada total em sua vida por causa da uma enorme bolada de dinheiro que vai receber. Mas o tal dia de sorte vira dia fatídico, por conta daquelas surpresas que podem azarar a vida de qualquer mortal.
Uma das providencias que o empresário tomou foi acabar com caso que mantém com Karina (Graziella Moretto), funcionária de uma de suas lojas de confecção. A moça vira bicho e, enquanto os dois discutem, ela sem querer aperta o botão ''send'' do celular de Duda, acionando o número da mulher dele, Mari (Viviane Pasmanter), que passa então a ouvir toda a conversa.
Num único dia, Mari e a amiga Déia (Betty Gofman) acompanham no carro, pelo viva-voz, uma série de confusões envolvendo desvio de dinheiro, roubos, sequestros e até uma tentativa de assassinato.
Como se nota, um trivial para divertir na mesma ou em melhor medida que o similar estrangeiro. E sem enviar royalties para as transnacionais.