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O compromisso moral de Clint Eastwood

Carlos Eduardo Lourenço Jorge - Folha de Londrina
02 fev 2007 às 17:25

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Ponto de partida do longa é o sangrento desembarque de soldados americanos na Guerra do Pacífico: enérgica, sóbria e conscienciosa reflexão - Divulgação
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Nenhuma dúvida, logo de saída: ''A Conquista da Honra'', sem deixar de ser também filme de entretenimento, é peça de cinema complexa, tanto na estrutura como nas intenções. A obra confirma o compromisso de Clint Eastwood com um conjunto de propostas nitidamente humanistas, arremetendo contra todo tipo de irracionalidades, tenham elas o nome de conflito bélico ou manipulação governamental.

É isto, acima de tudo, que torna este um produto imperecível, com prazo de validade indeterminado, a consumir permanentemente, isto é, enquanto a arrogância das nações e a estupidez dos homens governarem a Terra.

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Primeira parte do díptico oferecido pelo velho e excepcional Clint sobre a Guerra do Pacífico - que se completa com ''Cartas de Iwo Jima'' - ''Flags of Our Fathers'' ou ''Bandeiras de Nossos Pais'', no original, teve roteiro escrito por William Broyles e Paul Haggis, que adaptaram best seller escrito por Ron Powers e James Bradley, este o filho de um dos veteranos que participaram da tomada da ilha japonesa de Iwo Jima por soldados dos Estados Unidos, em 19 de fevereiro de 1945.

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Os roteiristas armaram uma estrutura engenhosa em três direções. Na verdade, trata-se da desconstrução temporal de um mito. O ponto de partida é o sangrento desembarque, os primeiros dias de batalha e a célebre fotografia dos soldados americanos cravando a bandeira no único monte da ilha como prova de vitória e supremacia.

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A partir daí se alternam passagens atuais do autor do livro em busca de informações sobre esta imagem com outras sobre os preparativos de guerra que culminaram com a conquista de Iwo Jima. Além disso, há a interação com um tour patriótico que os supostos sobreviventes do histórico flagrante fazem pelos EUA para vender bônus de guerra.


Valente, enérgica, sóbria e conscienciosa, a reflexão que Clint arma a partir desta dramaturgia. Como sempre criativo, ele não abdica daquele tom desesperançado que percorre toda sua filmografia.

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Aqui sua bandeira não é apenas demonstrar o horror da guerra, mas questionar o conceito de herói e a manipulação midiática a partir do fato de que a famosa foto em que se coloca o símbolo ianque em solo japonês não corresponde ao momento em que ele foi fincado na terra pela primeira vez. O que leva a alguns erros de identidade sobre quem está ou não na fotografia, colocando em discussão a idéia de heroísmo tão frequentemente manipulada e/ou maximizada. Clint não nega os heróis, mas os concebe como parte do cotidiano, pessoas que podem surgir inesperadamente e não têm porque ter continuidade.


Com mão de mestre, Clint não apenas conduz um elenco de jovens atores (todos com menos de 26 anos) como uma vez mais impõe um ritmo cinematográfico original no presente panorama do cinema, não apenas hollywoodiano, mas mundial.


Nervos acima de tudo, tradição clássica, firme resistência aos maniqueísmos, é o cineasta mais próximo a John Ford, na ausência do gênio. Ele dosifica as informações com tal destreza que seu estilo é hoje inimitável. O que, entre outras virtudes, o consagra como um dos melhores narradores contemporâneos.

Mas há quem renegue o filme, acusando-o de antipatriota. O diretor encolhe os ombros e somente sorri. Sua noção de patriotismo está muito acima de qualquer modismo, e sua visão da guerra é inédita. É de longe o número um nos EUA, mesmo que daqui a três semanas a Academia resolva dar o Oscar a Martin Scorsese.


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