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O cavalo de Tróia vai a Cannes

Carlos Eduardo Lourenço Jorge
14 mai 2004 às 10:33

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Reunindo milhares de figurantes, ‘‘Tróia’’ foi mostrado fora de competição em Cannes e traz de volta o fascínio dos épicos - Divulgação
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Uma tranquila noite de abertura oficial, em que todos saíram ganhando, honrando o acordo. Os manifestantes temporários da indústria do espetáculo conseguiram, afinal, fazer seu protesto pacífico na mais badalada tribuna que qualquer movimento reivindicatório poderia sonhar, isto é, em pleno tapete vermelho, no momento de estréia do festival dos festivais.

E a organização da mostra recebeu em paz seus convidados para a sessão de gala de ''La Mala Educacíon''. Como se viu, todos muito bem educados, e Cannes já pode celebrar antecipadamente o sucesso de mais uma edição. Pena que as imagens da festa ficaram em segundo plano em todos os grandes jornais europeus, que abriram espaço para as cenas de barbárie do vídeo-terrorismo, agora via Internet.

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A quinta-feira, 12 de maio, foi dia de fazer um grande afago na indústria hollywoodiana, o que de resto vem sendo uma constante na seleção oficial de Cannes, Veneza e Berlim.

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A Europa cede aqui e ali (Spielberg vai abrir Veneza, dia 1º de setembro, com ''Terminal''), Hollywood retribui com doses do glamour que afinal é parte importante da seiva que mantém o brilho da vitrine, de frente para o resto do mundo.

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''Tróia'', superprodução de US$ 200 milhões de dólares, foi exibido em Cannes pela manhã fora de competição, apenas algumas horas antes de começar uma barulhenta carreira nas telas de 34 países, entre eles o Brasil.


Além do filme, aqui desembarcaram para aquela que, com certeza, já é a mais concorrida coletiva do festival o diretor Wolfgang Petersen e onze atores, o elenco principal em peso.

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''Tróia'' foi vagamente adaptado (ou ''inspirado'', segundo os créditos) num dos gigantes da literatura universal, ''A Ilíada'', vasto poema da antiguidade clássica escrito por Homero.


A condensação da obra está em 163 minutos, e pensando bem, é mesmo um filme sob medida para estas novas gerações que se aproximam ''vagamente'' de valores artísticos perenes.

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É como ler uma dessas versões reducionistas que professores adotam em nossos colégios, reescritas segundo critérios ''práticos'' para atender recentes padrões de aprendizado e comportamento a partir da ditadura da imagem, sempre em busca da sofisticação.


''Tróia'' é muitas coisas num filme só. Acima de tudo, é um filme de ação quase continua, com combates bem aceitáveis como aquele entre Aquiles (Brad Pitt) e Heitor (Eric Bana), ressalvada a insistente presença das artes marciais.

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Aquela luta decisiva que o público sabe que vai acontecer, mas que é adiada ao máximo. Tem também romance por conta da paixão de Helena, rainha de Esparta (Diane Kruger), mulher de Menelau (Brendan Gleeson), por Páris (Orlando Bloom), filho de Príapo (Peter O'Toole), rei de Tróia.


É ainda uma viagem nostálgica ao velho estilo de épicos hollywoodianos - o ''filme de toga'', muito frequente nos anos 1950 e 60, ''estrelando'' Charlton Heston, Kirk Douglas e Victor Mature. O nome da vez nas marquises mundanas é o de Brad Pitt, ainda em busca de carisma já quase transformado em ícone com status de divindade - é impressionante o tratamento que o ator recebeu do iluminador de ''Tróia'', Roger Pratt.


Mas apesar dos avanços tecnológicos e de todo o know-how adquirido pelo cinema, ''Tróia'' alinha quase todos os prós e contras daqueles espetáculos históricos criados há meio século: de um lado, imensos valores de produção, batalhas magníficas, alguns bons atores em papéis de destaque. Do outro, diálogos pobres e romances insípidos.

E apesar de certo esforço do roteirista David Benioff em acrescentar referências e comentários contemporâneos à questão do conflito armado, sutilmente sugerindo episódios iraquianos recentes, fica a impressão final de que ''Tróia'' é um filme que acima de tudo celebra a guerra como um esporte da moda, além de muito prazer.


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