Estreias

'O Aviador' preenche lacunas com espetáculo

12 fev 2005 às 17:24

Os pré-requisitos para melhor apreciar a estréia nacional de ''O Aviador'', o concorrente ao Oscar mais carregado de nominações (11) é o interesse em saber quem foi Howard Hughes, a curiosidade pela aviação e o fascínio pela clássica Hollywood, ou a conjugação dos três itens.

Se o espectador fornecer um desses pontos como contribuição, o filme fará o resto. Os atores estão bem escalados (o que significa um bom casting) e suas performances são vistosas como as circunstâncias da narrativa exigiam.


Palmas para Cate Blanchett e seu esforço de homenagear a inimitável Katherine Hepburn. O detalhamento de época é luxo digno de enredo de uma Beija-Flor.


E Martin Scorsese coloca o público confortavelmente nos braços de 1930, propiciando bem-estar visual e sonoro durante os 165 minutos de projeção - a fotografia é de primeira linha e a trilha musical de época recuperada em grande estilo. A combinação entre fidelidade e imaginação é ponto alto nesta produção.


O que parece faltar é uma resposta satisfatória à pergunta que poderia ser encaminhada ao diretor Scorsese: ''Por que um filme sobre Howard Hughes?'' . Se existe uma resposta além de ''porque é um personagem interessante'', ou ''porque achei que seria um filme legal'', ela não está na tela.


Para ficar com um exemplo malicioso, já que ''Menina de Ouro'' está entrando na sala ao lado e tem o boxe como tema colateral, ''O Touro Indomável'', que o mesmo Scorsese dirigiu em 1980, foi uma obra-prima porque continha muito mais do que a vida de um lutador - e ali ele mereceu o Oscar.


É um desses filmes maiores que a vida, como é o de Clint. ''O Aviador'', assim como chegou à tela depois de muitas peripécias de produção, parece conter uma lacuna bem no centro. E Scorsese a preenche da única maneira que pode, com espetáculo. Ele fez de ''O Aviador'' um entretenimento colorido do princípio ao fim.


A vida de Howard Hughes, aqui cinebiografrada, poderia fornecer um sem número de oportunidades para um entorno dramático. Produziu e dirigiu filmes, foi dono de um estúdio, bateu recordes aéreos enquanto desenhava e construía aviões.


Então se rendeu aos distúrbios mentais que o atormentavam e recolheu-se à uma vida reclusa a partir de determinado momento, nunca mais sendo visto até sua morte.


''O Aviador'' focaliza seus primórdios, os anos de ambição e inovações. Primeiro o encontramos no set de ''Anjos do Inferno'', o conturbado ainda que brilhante épico sobre batalhas aéreas na Primeira Guerra Mundial.


Leonardo DiCaprio parece a princípio muito jovem para ser Hughes, mas Hughes começou a dirigir o filme com 21. Ponto para Scorsese e DiCaprio.


''O Aviador'' é daquelas ''biopic'' a rigor, que segue um esquema clássico de ascensão e queda do personagem. O problema é que o roteirista John Logan, e por cumplicidade o diretor Scorsese, diante do muito a dizer e do dilema de eleger, acabam privilegiando o episódico.


Como resultou na tela, parecem peças cinematográficas diferentes relativas a um mesmo homem, mas ajeitadas num conjunto que, apesar das qualidades óbvias e já mencionadas, termina por parecer frouxo e aleatório.

''O Aviador'' é um filme acadêmico, ortodoxo e complacente, um filme cujas concessões comerciais satisfarão a maioria. Mas quem conhece o potencial criativo de Scorsese, sabe que se pode exigir dele maior compromisso artístico.


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