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O amor e seus segredos em '2046'

Carlos Eduardo Lourenço Jorge - Folha de Londrina
23 jun 2006 às 17:25

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Numa espécie de sinfonia cinematográfica, '2046' é um fascinante estudo sobre os diversos graus de compromisso nas relações afetivas - Divulgação
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Os filmes de Wong Kar-wai não precisam de explicação, embora seja sempre fascinante falar sobre eles. Se o espectador está razoavelmente atento e receptivo ao que se desdobrará diante dos olhos, vai compreender com clareza o que se passa na tela: quem são estes personagens que falam sozinhos porque não têm com quem dialogar, esta colorida estranheza do espaço onde eles habitam e a dimensão ''não natural'' na qual se comunicam. E onde alguns deles encontram, conhecem e perdem o amor.

Os filmes de Kar-wai falam de amor. Não do amor dos filmes de Meg Ryan, onde sempre há finais felizes. No território melodramático do diretor, os filmes falam deste amor que vivemos no dia-a-dia, este que é de verdade, este que às vezes pode não ter um final feliz, e não por culpa dos outros, mas de nós mesmos.

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O romance, na ótica do cineasta, é um milagre fruto da coincidência, mas também pode ser algo que deixará marcas profundas e para sempre. Neste sentido, ''2046'', é complementar a ''Amor à Flor da Pele'', prolongando muitas daquelas preocupações e aparências numa espécie de convergência, onde as vidas dos personagens se encontram e se unem.

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Neste fascinante estudo sobre o ciúme, a paixão, os diversos graus de compromisso nas relações afetivas e a possibilidade ou não de se construir um futuro sem acertar contas pendentes com o passado, tudo começa na imaginação. O título se refere a uma novela de ficção científica que o protagonista, Chow (Tony Leung, ator-fetiche de Kar-wai), está escrevendo.

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Mas é também um trem que viaja no tempo. É um estado mental de felicidade idílica, localizado no futuro, uma cidade ostensivamente digital onde as pessoas Chow, em particular vão buscar lembranças perdidas, vale dizer, o seu tempo perdido. E é o numero do quarto de um hotel, cenário realista onde se sucedem as quatro mulheres na vida amorosa do personagem. Aqui o espectador é convidado a testemunhar uma série de romances carnais ou platônicos, flertes, amores frustrados.


''2046'' é uma espécie de sinfonia cinematográfica que repete seus movimentos, seu leitmotiv, aqui e ali com sutis variações. O filme também encontra na ópera não apenas sólida sustentação musical como também a força espiritual que lhe dá vida. Wong Kar-wai faz uso de todos os recursos visuais e narrativos ao seu alcance: pela primeira vez na carreira de oito filmes, fotografa com lente anamórfica para obter o widescreen, a tela larga do formato scope.

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Utiliza aforismos, cartazes, imagens de arquivo, divide o plano e faz uso de uma permanente voz em off que interage com os diálogos, amplificando a carga lírica e nostálgica do relato. E salta do idealizado ano de 2046 aos quartos baratos do Hotel Oriental numa convulsionada Hong Kong em fins da década de 1960, onde ocorrem crimes passionais e onde Chow mantém fogosos encontros sexuais com suas diversas interlocutoras. A audácia do realizador se estende também aos diálogos: entre si, os personagens falam cantonês, mandarim e japonês.


O filme encontra em Tony Leung o intérprete ideal para a mescla de escritor boêmio na linha Charles Bukowski, intelectual proustiano, melancólico Don Juan, galã de filmes clássicos e voyeur profissional.


O acabamento técnico é prodigioso, como em todo o cinema de Wong Kar-wai. Cada plano é obra de arte trabalhada com obsessiva sensibilidade por três diretores de fotografia, o australiano Christopher Doyle e os chineses Kwan Pung-Leung e Lai Yiu-fai, mágicos com a luz e as diferentes texturas de imagem. A eclética trilha musical é outro regozijo para cinéfilos, combinando evocativas composições do alemão Peer Raben (velho parceiro do diretor Rainer Fassbinder) com temas de Xavier Cugat, Mel Tormé e as vozes de Nat King Cole, Connie Francis e Dean Martin.

Um dos raros diretores visionários do cinema contemporâneo, Kar-wai fez um filme de excessos e não isento de imperfeições, mas acima de tudo inteligente, instigante, sofisticada e de uma beleza estonteante. Tudo leva a crer que ô2046" é a culminância de uma busca temática e de uma estilização formal muito próximas do esgotamento. Seu próximo projeto já em pré-produção, ''My Blueberry Nights'', vai provar ou não se o diretor tem de fato grande talento e intuição para reinventar-se a si mesmo.


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