E se o amor viesse com um manual? Assim, como o parceiro escolhido, a primeira noite de sexo e até mesmo o dia seguinte à primeira noite. Tudo explicado, num roteiro sem falhas em que seguir os itens seria garantia certeira de felicidade.
Para quem já viveu as agruras de relacionamento, um relatório assim seria a redenção. Para quem está condenado a aceitar a realidade, no entanto, a solução para manter as relações amorosas é o humor.
E foi esse ingrediente que o escritor e cineasta José Roberto Torero adicionou ao seu primeiro longa-metragem, a comédia romântica ''Como fazer um filme de amor'', que estréia no Paraná.
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Para escrever o roteiro, Torero se inspirou nos clichês presentes nos clássicos livretos vendidos em bancas de jornal (como as edições de ''Sabrina'', ''Bianca'' e Júlia'') e nas comédias românticas americanas.
Ao mergulhar nessas produções, o diretor percebeu que existe uma fórmula para se contar histórias românticas. ''É uma fórmula rígida, tudo acontece sempre do mesmo jeito'', conta.
O diretor decidiu brincar com essa estrutura e foi assim que surgiu ''Como fazer um filme de amor''. O longa de baixo orçamento (custou pouco mais que R$ 1 milhão, incluindo lançamento) foi filmado entre novembro e dezembro de 2002 e já percorreu os principais festivais nacionais arrebatando alguns prêmios.
No Festival de Belém, ganhou Melhor Roteiro e Direção e no Cine Pernambuco, recebeu o prêmio Melhor Roreiro. Pouco antes da estréia no Paraná, foi exibido no Festival de Cinema de Curitiba antes de partir para festivais internacionais (como em Montreal), mas já entrou em circuito comercial em São Paulo e Rio de Janeiro somando 30 mil espectadores na primeira semana.
No elenco principal, Denise Fraga, com quem Torero trabalhou no quadro ''Retrato Falado'', escrito por ele e exibido pelo Fantástico; Cassio Gabus Mendes; Marisa Orth e Paulo José como o narrador.
O narrador, aliás, é peça chave no filme. É ele quem interfere nos fatos para enquadrar o encontro do casal protagonista (interpretados por Denise Fraga e Cassio Gabus Mendes) num autêntico ritual romântico, dentro dos clichês amorosos.
''O casal que vai iniciar uma relação se encontra sempre num lugar idílico, uma praia deserta, a parte mais alta da Torre Eiffel, nesse caso é uma praia deserta'', diz o diretor, revelando uma das fórmulas para se viver um ''grande amor''.
E num cenário assim, é importante que algum fenômeno natural ou do destino aconteça para que o casal seja obrigado a passar um tempo junto. Uma noite, por exemplo, mas que não haja sexo. ''Dentro dessa fórumla o sexo nunca pode acontecer na primeira noite'', ensina Torero.
No decorrer do longa, qualquer pista que possa levar ao reconhecimento da realidade, como uma brochante lingerie com desenhos de personagem de desenho animado ou algumas gordurinhas salientes é rapidamente identificada pelo narrador, que interrompe a cena e faz com que os atores sigam a velha e indefectível fórmula de amor.
''O filme faz com que o público entenda que existe uma fórmula padrão para contar uma história romântica'', diz o diretor ressaltando que algumas comédias conseguem fugir disso. Como exemplo, ele cita o filme ''Quatro casamentos e um funeral'' (direção de Mike Newwel, 1994). ''Mas a maioria das produções obedecem a esse padrão''.
Para escrever e dirigir o filme (Torero assina o roteiro ao lado de Luiz Moura), o cineasta interrompeu a coluna sobre futebol que publicava na Folha de São Paulo há seis anos. As crônicas serão reunidas em livro ainda sem título que será lançado em janeiro de 2005.
José Roberto Torero dirigiu seu primeiro curta em 1990: ''A inútil morte de S.Lira''. Com o filme ''Nunc et Semper'', ganhou o ''Prix du Recherche'' em Clermont-Ferrand, principal festival de curtas do mundo. Dirigiu ainda os curtas ''Amor!'' (1994, vencedor de oito festivais); ''O Bolo'' (1995); ''A Alma do Negócio'' (1996) e ''Morte'' (2002). Este último ganhou o prêmio de melhor filme e melhor roteiro no 7º Festival de Filmes Brasileiros de Miami e o Grande Prêmio do Cinema Brasileiro.
Apesar de só agora dirigir o seu primeiro longa-metragem, ele já havia assinado roteiros nessa categoria antes. Escreveu o roteiro de ''Pequeno Dicionário Amoroso'' (1996), Memórias Póstumas (2001) e Celeste e Estrela (2003). Em 2001, ''Uma história de futebol'', curta roteirizado por ele, foi indicado ao Oscar.