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Nada é perecível, tudo se recicla

Carlos Eduardo Lourenço Jorge
15 out 2004 às 20:45

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Nesta seqüência, muitas dúvidas sobre o que move a vingança de Noiva (Uma Thurman) contra Bill (David Carradine) são respondidas - Divulgação
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A distribuidora Lumière fez a coisa certa, e simultaneamente com o lançamento no país deste segundo volume, abasteceu as locadoras com o primeiro volume de ''Kill Bill'', cinco meses depois da estréia nos cinemas. Assim fica mais fácil embarcar nesta trip em que Quentin Tarantino primeiro armou o jogo e depois arrematou as jogadas.

Na base dos murros, golpes e exercícios físicos inverossímeis, a primeira parte de seu filme hiperbólico apareceu na tela mais como um videogame com requintada trilha sonora do que aquela tão aguardada quarta obra do garoto gênio de Hollywood.

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Em todo caso, Tarantino em pessoa explicava que ''Kill Bill Vol. 1'' tinha sido feito propositalmente desta maneira; não queria que fosse alguma coisa muito real, mas que fosse uma espécie de filme dentro do filme. ''Kill Bill é o filme que Vincent Vega (John Travolta) veria dentro da trama de 'Tempo de Violência''', disse o diretor de ''Cães de Aluguel''.

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A mudança em torno de ''Kill Bill Vol. 1'', comparada com seu trabalho anterior, ''Jackie Brown'', foi evidente. Menor quantidade de seus famosos diálogos referentes à cultura pop e menos complexidade estrutural mostraram uma faceta mais corrente de Tarantino que, na ausência de seus conhecidos quebra-cabeças formais (como combinação de flashbacks e tempo presente), veio com tudo ao encontro dos excessos, desde jorros de sangue até lutas surrealistas.

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Mais pausado, mais falante claro que com fina ironia e elegância de escritura e menos espetacular e vertiginoso, o diretor está de volta com este ''Kill Bill Vol. 2''. Ele aqui segue o périplo da Noiva (Uma Thurman) em busca de vingança contra aqueles que a deixaram em coma há quatro anos.


Mas se na primeira parte tudo se passava por conta de razões sem maiores procedências, já que muitas coisas não eram explicadas, agora o roteiro de Tarantino entrega a fatura completa, isto é, nesta segunda parte são respondidas todas as perguntas que ficaram no ar.

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Tem mais: a sequela de certa maneira serve como vitrine para exercícios de estilo, como a homenagem às sinopses hitchcockianas da década de 1960, às paisagens desérticas dos western spaghetti do mesmo período e ao suspense em branco-e-preto dos filmes B, como na sequência da enterrada viva.


O filme parte da retomada do prólogo do Vol. 1, em branco-e-preto, oferecendo uma nova versão da tentativa de assassinato da Noiva por parte do enigmático Bill (David Carradine) e de seus seguidores.

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Longe das citações ao universo das histórias de yakuza (a máfia japonesa) que preencheram boa parte do primeiro ato, agora Tarantino se aprofunda nas típicas paisagens norte-americanas para homenagear os faroeste-espagueti assinados por Sergio Leone e as trilhas musicais de Ennio Morricone.


Mas Tarantino não abandona sua veneração pelo Oriente, e de novo resgata os códigos, a estética e as cenas de ação da produção asiática dos anos 1970, tendo os filmes dos Shaw Brothers como principal modelo de inspiração.


Convidado de honra do recente Festival de Veneza para apadrinhar a retrospectiva ''A História Secreta do Cinema B Italiano'', durante duas semanas Quentin Tarantino em pessoa rendeu homenagem a muitos de seus ídolos e fontes de influência explícita, realizadores e filmes que ajudaram a construir a indústria de cinema da Itália durante os anos 1960, 70 e 80.

Na base do cinema de Tarantino está não apenas este modelo europeu bem datado e definido, mas também outros gêneros e subgêneros menores, fontes que ele, a um só tempo iconoclasta e reverente, sabe reciclar como poucos. Talvez mesmo como nenhum outro.


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