Um Nordeste Pop, cheio de cores berrantes e enfeites por toda parte (o que confere também um visual kitsch) é o cenário em que se desenrola a meiga história de "Lisbela e o Prisioneiro", o mais novo longa do diretor Guel Arraes, diretor responsável por outros dois grandes êxitos do cinema nacional recente: "Caramuru - A Invenção do Brasil" e "O Auto da Compadecida". Este último chegou a ser o filme nacinal mais visto pelos brasileiros nos últimos anos, até ser ultrapassado por "Cidade de Deus".
Virar o jogo e fazer mais bilheteria que o "Pulp Fiction da favela" não vai ser tarefa fácil para Guel Arraes, no entanto o conto de fadas de Lisbela tem atributos para garantir uma das maiores bilheterias do cinema brasileiro atualmente: história bonitinha e bem contada, elenco popular, censura livre, muito humor, clima nordestino, boa trilha sonora, além de um marketing pesado de lançamento e nada menos que 300 cópias circulando por cinemas de todo o país.
Como foi dito na primeira linha deste texto, a história se passa no Nordeste. Leléu (Selton Mello) é um trambiqueiro mulherengo e aventureiro que passa com seu carro/casa de cidade em cidade apresentando espetáculos ou vendendo produtos que não funcionam para ganhar um dinheiro fácil. De quebra, sempre arranja pelo menos um rabo de saia por onde passa.
Mas quando se envolveu com Inaura (Virginia Cavendish, numa das melhores atuações do filme), Leléu se complicou. Ela é casada justamente com o maior matador de aluguel do Nordeste, Frederico Evandro (Marco Nanini, também excelente). De forma muito malandra, o galanteador anti herói consegue fugir da fera e prosseguir em seu caminho pingando de cidade em cidade.
Numa de suas paradas, Leléu conhece Lisbela (Débora Falabella), uma garota sonhadora que adora ir ao cinema, local onde dá asas à fantasia de ter sua vida como a dos heróis e mocinhas da telona. Surge a paixão. Leléu está disposto a largar sua vida de safadesas para viver ao lado da menina. Porém, ela está noiva e de casamento marcado com Douglas, um pernambucano que usa brilhantina no cabelo e fala com sotaque carioca só para impressionar (em resumo, um legítimo almofadinha).
Não bastasse este problema, Lisbela é filha do chefe de polícia, o severo Tenente Guedes (André Mattos) e o terrível matador Frederico Evandro está à procura de Leléu para vingar o corno tomado. E isso é só o começo, pois a história tem muito mais entraves.
Vale citar que esta comédia romântica está ganhando, finalmente, uma versão cinematográfica após ter recebido versões para a TV (em 1993, numa mini série também dirigida por Guel Arraes) e para o teatro. Parte do elenco havia atuado no palco, como Tadeu Mello, que interpreta o Cabo Citonho, um cômico personagem que se destaca por sua "esperteza ingênua", como o próprio ator definiu.