Estreias

‘Limite Vertical’ é uma montanha de clichês digitalizados

12 mar 2001 às 17:22
Carlos Eduardo Lourenço Jorge
De Londrina
Especial para a Folha2

Dirigido pelo neozelandês Martin Campbell apenas com os músculos cerebrais, logo de saída ‘Limite Vertical’ providencia uma dose sugestiva de suspense enquanto explora perigosos laços de família. Que aliás vão ser literalmente cortados nos próximos minutos (ou seriam segundos já que a velocidade da montagem e a sucessão de planos são espantosos?). A sequência de abertura – e o espectador mais atento já vai identificando território muito próximo de ‘Risco Total’, o reino de Stallone – é esclarecedora sobre o que virá a seguir: Peter Garrett ( Chirs O’Donnell) é obrigado a sacrificar o pai, a pedido insistente do próprio, para que ele e a irmã Annie (Robin Tunney) não morram na mesma queda amarrados à mesma corda, durante a escalada de um pico em Monument Valley, em Utah. Inconformada com a decisão de Peter, a moça se afasta.
Corte para alguns anos mais tarde. Agora fotógrafo da National Geographic Magazine, e longe das grandes altitudes, Peter está registrando a vida selvagem no Paquistão, mais precisamente o ameaçado leopardo das neves. Por seu turno, Annie, montanhista famosa, acompanha uma expedição organizada por um bilionário arrogante (Bill Paxton) para escalar o legendário K2, a segunda mais alta montanha do mundo. Os irmãos se encontram, mas o clima é duplamente frio. As coisas se complicam para Annie, quando fica presa numa espécie de caverna com outros dois membros da expedição. O tempo se recusa a cooperar e ainda piora. Num prazo de 36 horas todos devem morrer.
A não ser que...
Peter organiza uma equipe de resgate, seis peritos em montanhismo capazes das maiores proezas. Para se certificar bem da aflição do espectador, os roteiristas providenciaram ainda doses letais de nitroglicerina, que vai explodindo morro acima matando a maioria dos voluntários-mercenários – há uma grande recompensa se o bilionário for salvo. Mas o tempo urge e Annie pode morrer em breve de edema pulmonar caso ultrapasse o tal ‘limite vertical’. Enquanto isso, pelo rádio, irmão e irmã resolvem as diferenças familiares.
Neste típico ‘disaster-movie’, ou filme-catástrofe, encontra-se farto suspense e sempre em cenas repetidas. Aqui há sempre alguém à beira de um precipício. Ou uma corda para arrebentar. Ou um gancho para quebrar. Mas a manipulação digital trabalha tão bem que transforma em real aquilo que parecia impossível à primeira vista. Sem dar um minuto de descanso, e aproveitando a tecnologia que enregela as novas salas de projeção, ‘Limite Vertical’ provoca mais calafrios, multiplica saltos, quedas, explosões e ventanias impressionantes num relato com estética de montanha russa. Todo este esforço de maquinação computadorizada acaba evitando que o filme despenque em queda livre e caia inteiramente no vazio.

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