Preste atenção você que vai curtir esta muito jeitosa comédia romântica: boa parte do bom andamento do filme pode e deve ser creditado a Hugh Grant, que está se tornando um dos melhores atores do chamado ''velho estilo'', alguém que via de regra empresta consistente personalidade ao filme. Ele é dotado de certos atributos para a comicidade mais refinada, uma dada precisão para dizer textos que parecem ter sido pensados e escritos exclusivamente para ele.
Seus personagens se inscrevem na categoria de livres-pensadores, invariavelmente transitando sobre a linha muito tênue de uma moral meio antiquada, meio contemporânea. Por si Grant já valeria o ingresso para ver este ''Letra e Música'', mas o filme tem mais a oferecer.
Grant é Alex Fletcher, ex-ídolo da música pop dos anos 80. Logo na abertura, temos o moço num vídeo roqueiro que captura as convenções piegas e passadistas daquele momento. Ao final do vídeo se conhece toda a vida pregressa do herói. Que já foi bem melhor do que nestes dias atuais.
Mas ele vai vivendo e trabalhando com dignidade. No momento, Cora (Haley Bennett), a sensação pop, pede a Alex que componha uma canção que possa virar sucesso do novo álbum da moça junto ao público juvenil.
Mesmo que ele nunca tenha escrito nenhuma letra em toda a carreira. Quem vai colaborar decisivamente com ele na elaboração da música é Sophie (Drew Barrymore), a garota que rega suas plantas. A maioria dos detalhes saborosos do filme emerge desta interação entre os dois. Aquilo que chamamos habitualmente de química. E aqui ela funciona.
O roteirista e diretor Marc Lawrence tem currículo na área da comédia romântica, e até agora tinha feito apenas para o gasto. Mas aqui há virtudes que seus títulos anteriores não ostentavam. Há bons diálogos estendidos, com os atores rendendo acima do nível das convenções limitativas do gênero. Há charme neste filme, com nuances muito precisas e bem-vindas.
Há ainda número considerável de canções, e interlúdios cantados - o que quase transforma ''Letra e Música'' em musical a rigor. As canções, escritas por Adam Schlesinger, ajudam e muito o filme a manter seu melhor apelo ao longo do tempo. Grant e Barrymore, quando preciso, sustentam uma interpretação musical correta. E Grant, embora não possa ser levado a sério como dançarino, se movimenta bem o suficiente para convencer como performático. Recomendável, sem restrições.(