Para todos os gostos
''Brasil - O Cinema Invisível'' é o ciclo de filmes brasileiros inéditos que o Cine-Tour/UEL exibe durante este mês. A intenção expressa no batismo do ciclo é colocar ao alcance do espectador local títulos recentes e inéditos em Londrina, filmes sem vida fácil no circuito comercial brasileiro - leia-se multiplex - que somente exibe a produção nacional (quando exibe) chancelada pelos canais ''oficiais'' - leia-se Globo Filmes em parceria com multinacionais, vez ou outra travestidas de mecenas de plantão para também controlar fatias de mercado faladas em português.
Neste seu segundo longa depois do ótimo ''De Passagem'', o diretor Ricardo Elias está de volta ao universo da urbe paulistana que tão bem soube enquadrar no filme de estréia. ''Os 12 Trabalhos'' traça novamente um forte retrato da megalópole, agora a partir do olhar de um motoboy, dos mais emblemáticos personagens da malha humana de São Paulo.
Utilizando livremente como ponto de partida as proezas mitológicas de um dos mais populares heróis do Olimpo, o roteiro de Ricardo Elias acompanha a trajetória de Heracles (Sidney Santiago, estreante muito inspirado), jovem da periferia que busca melhores caminhos na vida como motoboy depois de uma temporada na Febem.
Quem ajuda nesta procura o primo Jonas (Flavio Bauraqui), que consegue para Heracles uma oportunidade numa empresa de entregas. Mas para garantir a vaga nosso herói ordinário é obrigado a cumprir doze complicadas tarefas nesta selva urbana nada mitológica. Pelo contrário, muito realista.
Nenhum maniqueísmo, nenhuma concessão ao paternalismo ou à emoção fácil. ''Os 12 Trabalhos'' é rico painel social sem cair em esquematismos de sociologia barata, sem resvalar para o moralismo ao desnudar a face dura da maior cidade da América Latina.
O enfoque semidocumental da narrativa é a um só tempo preciso, envolvente, empolgante - neste sentido é um filme de aventuras, vertente road-movie, nervoso, intenso, câmara na mão nas armadilhas do transito caótico.
Não há retoques de maquiagem na crueza exposta/captada nas ruas, e isto só acrescenta maior poder ao drama. Um elenco de muita força e coesão também contribui para o resultado geral positivo.