A seita de adoradores da coletânea Harry Potter - livros e imagens - vai com certeza encontrar considerável número de itens a saborear em ''Harry Potter e a Ordem da Fênix'', já em exibição em toda a extensão terrestre do planeta.
Mas aquele espectador sem intimidade ou sem maior afetividade com o universo de Hogwarts e imediações londrinas, apenas esperando ver um filme que aconteça por si só, vai encontrar somente uma narrativa com alguns momentos agradáveis, uma ou outra performance relevante e um argumento entrecortado por curvas e atalhos desnecessários.
Tudo depende da perspectiva: visto somente como um filme, ele tem lá suas limitações e estreitezas, mas como ajuda visual para a experiência de ler um livro, esta nova entrega cumpre bem a missão.
Leia mais:
Das estrelas ao fundo do mar: confira as estreias nas telonas neste mês de maio
Trailer de nova animação Disney traz Buzz Lightyear com a voz de Marcos Mion
Filme Kingsman 2 - O Círculo Dourado tenta repetir sucesso
Nova série do Star Trek mostra a luta pela paz no mundo
A trama se beneficia da maturação fisionômica do ator Daniel Radcliffe, agora em plena capacidade de oferecer sofisticada vida interior ao jovem Harry. Este é - os seguidores da série conhecem bem a saga - um personagem com sofrimentos de sobra. E quando Radcliffe era um ator-criança, ele podia apenas simular. Agora não. Ele obviamente cresceu, como gente e como ator. Agora ele pode, na plenitude hormonal dos 15 anos, não somente incorporar as dores, mas senti-las e demonstrá-las.
Além de treinar o beijo que aplica na coleguinha Cho Chang, o rapaz andou estudando, e demonstra bem o aprendizado - sua atuação no ''Equus'' de Peter Schaeffer, em cartaz em Londres, com certeza deu-lhe estofo para aprofundar Harry Potter.
Só para não dizer que não falei sobre trama, argumento, história, estas indispensáveis armações que entregam princípio, meio e final a uma platéia submissa aos cânones da narrativa ortodoxa. Harry está de volta a Hogwarts para seu quinto ano de estudos de bruxedos, mas não sem antes, fora da escola, usar seus poderes mágicos (e proibidos, o que quase lhe custa uma expulsão). Bom de ''mágica'' retórica, ele se sai bem da embrulhada.
Harry descobre que boa parcela da comunidade feiticeira da escola não está nem aí com a notícia de que Lorde Voldemort (Ralph Fiennes) anda de novo pelas imediações, formando um exército de seres malignos para exterminar o herói, como se sabe o único com poderes para enfrentar e destruir o mal.
Mas há a facção do bem, a tal Ordem da Fênix, formada por magos e simpatizantes para combater o arquivilão Voldemort. Aventuras se sucedem, algumas confusas, outras mais claras, e quem quiser outros detalhes que pague seu tributo e engrosse a bilheteria, com certeza uma das maiores de 2007.
De volta aos encargos da crítica. Não se pode negar: qualquer filme que tenha ao ator Michael Gambon (Alvus Dumbledore, ''reitor'' de Hogwarts) andando por aí com aquela estranha barba decorada não pode ser ruim. O mesmo pode ser dito de uma dramaturgia que dê a Ralph Fiennes a cara de quem acabou de conversar com cirurgião plástico de Michael Jackson.
''A Ordem da Fênix'' é muito bom para quem gosta de vilania à inglesa, porque, além de Fiennes, o glacial Jason Isaacs na pele de Lucius, Imelda Staunton como a pérfida Dolores Umbridge e Alan Rickman como o velho Professor Snape são ótimos de malvadeza. Na verdade, Rickman está aqui interpretando um bom caráter, mas felizmente parece que alguém da produção esqueceu de dizer isto a ele.
Também conta a favor do filme, como sempre, a magnitude visual, sempre um passo adiante da representação realística, com satisfatório rendimento artístico e estético. Esta extravagância é sempre conveniente para disfarçar a anorexia da história e os furos de roteiro. Estréiam aqui o inexperiente diretor David Yates, o roteirista Michael Goldenberg - que substitui com perdas evidentes o habitual Steve Kloves - e o compositor Nicholas Hooper De John Williams só restou uma longínqua reminiscência.
A inexperiência deste novo time parece afinal a pedra de toque para justificar alguns percalços ao longo do caminho. Nada, no entanto, que fragilize ''A Ordem da Fênix'' a ponto de não recomendá-lo. Especialmente aos pottermaníacos, tanto leitores quanto cinéfilos.