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Final Fantasy: ilusão em busca da realidade

Claudio Yuge e Rodrigo Moraes
09 ago 2001 às 19:28

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Aki Ross, a heroína da trama que se apóia na cultura oriental - divulgação
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"Final Fantasy", filme que leva o nome da série de jogos RPG mais vendidos do mundo, é o resultado da união de uma empresa de softwares com uma grande produtora de filmes. A parceria entre a Square e a Columbia Tristar Pictures criou a animação por computador mais próxima da realidade já produzida. O desenho (ou seria filme?) inaugura uma nova era na animação, em que os efeitos visuais tentam reproduzir a imperfeição humana.
É um filme pretensioso. Entre os títulos de animação computadorizada, nenhum quis chegar tão próximo desse realismo. "Toy Story" e "Shrek", por exemplo, têm personagens caricaturais. São desenhos animados feitos com computador, enquanto que "Final Fantasy" é, ou pretende ser, um filme computadorizado. Os produtores querem até que seus personagens sejam encarados como atores, tanto que falam na idéia de outros filmes com a "atriz" que "interpreta" a Drª. Aki Ross. É esperar para ver se a idéia vingará.
Na história, que se passa em 2065, a Terra vive um clima de holocausto. Aprisionada em fortalezas, a população luta pela sobrevivência após a queda de um meteoro alienígena, responsável pela aniquilação da população e pela redução das cidades à ruínas. Apelidados de "fantasmas", os seres assumem formas diversas: alguns parecem dragões chineses, outros são monstros cheios de tentáculos. A protagonista é a dra. Aki Ross, especialista nas recém-chegadas doenças extraterrestres, que busca oito espíritos ao redor do globo com a esperança de salvar Gaia – o espírito do planeta – da destruição total.
Hironobu Sakaguchi, criador da série e responsável pelas histórias dos games, dirige, roteiriza e produz esta animação que levou 4 anos para ser feita e envolveu mais de 200 artistas digitais. Mas a trama, muito mais linear do que as apresentadas nos videogames (até porque a série de games conta com a interação dos jogadores para ditar o rumo dos personagens), não empolgou nos Estados Unidos. Apesar de todo o falatório que envolvia o filme, "Final Fantasy" teve um desempenho modesto nas bilheterias americanas: arrecadou apenas 30 milhões de dólares em suas três primeiras semanas, pouco perto dos US$ 137 milhões gastos na produção. Isso é bem explicável: "Final Fantasy" segue a fórmula dos jogos da série, em que as histórias são bastante influenciadas pela cultura japonesa. Não há dúvida, no entanto, de que será um sucesso em vídeo e DVD. É o tipo de filme que deve se adaptar tão bem à TV quanto às telas de cinema.
A base do roteiro gira em torno dos efeitos da era nuclear, marcantes depois dos bombardeios a Hiroshima e Nagasaki; do budismo, religião dominante no Japão que, em resumo, difunde a idéia de existência da alma em todos os seres vivos; e até mesmo do harakiri, o suicídio voluntário de guerreiros leais e honrados nas lendas orientais.
Os temas tratados no filme são familiares a todos que jogaram um dos títulos da série ou aos fãs de ficção científica. Quem nunca jogou "Final Fantasy" é atraído ao cinema por tudo que se tem falado sobre os prodígios gráficos conseguidos pelo filme. O visual é mesmo atordoante, mas tudo não passaria de malabarismos técnicos e exibicionismo oco se a história não fosse também interessante. E é, mas não para todos. Muitos acharão o enredo insosso demais, mas ele tem tudo a ver com o espírito dos games. Apesar de não depender de conhecimentos prévios, quem conhece os jogos vai se sentir bem mais à vontade com a mistura de tecnologia futurística, mitologia e misticismo.
Ainda que os efeitos visuais ainda não possam substituir os atores em situações dramáticas, o resultado é impressionante. Os personagens são muito parecidos com pessoas reais mas não tão imperfeitas quanto os seres humanos – em certas cenas é possível ver a textura irregular da pele, porém alguns movimentos lembram bonecos. Um dos pontos altos da animação é a caracterização dos cenários e do maquinário hi-tech. Na última década, somente o ilustrador francês Moebius (em "O Quinto Elemento") havia criado antes estruturas arquitetônicas tão complexas e nunca antes vistas. Não será surpresa se alguns dos elementos concebidos no filme se tornarem pauta científica num futuro próximo.
"Final Fantasy" transita entre o mundo live-action hollywoodiano e as peripécias virtuais dos jogos eletrônicos. O filme não chega a ser nenhuma peróla cinematográfica e deve agradar mais aos jogadores de Playstation e fãs de ficção científica. No entanto, só o fato de ser o primeiro filme totalmente digital em toda a história do cinema já o torna, pelo menos, o início de uma nova era na animação computadorizada.
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