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Fantasia sem ambição

Carlos Eduardo Lourenço Jorge - Folha de Londrina
25 dez 2006 às 14:47

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Mesmo com narrativa genérica e padecendo de identidade própria, ''Eragon'' até resulta em entretenimento suportável - Divulgação
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O épico mal acoplado ao comercial acaba dando nisto. ''Eragon'', na verdade uma aposta mal disfarçada em blefe da Fox e que chega no circuito nacional no feriado de Natal em trenó pilotado não por rena, mas por um dragão, não resiste à uma análise pouca coisa mais adensada.

São produções com este perfil, frente e verso que atestam a crescente perda de frescor no momento da criação - quer dizer, a rigor não há criação, e sem esta não houve inspiração ou talento no trajeto dos dedos ao teclado do computador. É preciso assinalar bem este ponto. porque o filme é o produto de uma sociedade na qual está se explorando tudo o que já foi explorado e se espremendo ao máximo aquilo que é supostamente funcional.

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A novela ''Eragon'' e suas duas sequelas, ''Eldest'', recentemente publicada, e ''Empire'', com lançamento previsto para 2007/8, formam a trilogia fantástica intitulada ''O Legado''. Quando começou a escrever, o autor Christopher Paolini tinha 15 anos. Agora já tem 19 (ou seriam 23?) e esta primeira parte adaptada que chega neste momento às salas de todo o mundo bateu os Harry Potter em vendas nos Estados Unidos e ficou um ano inteiro como número um em vendagem, segundo o The New York Times.

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Quanto ao livro, não sei. Não está entre minhas prioridades, e nas livrarias fica estacionado naquela banca que tenho por hábito olhar apenas de relance, já que nada há de novo sob as trevas da Terra Média.

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Mas quanto ao filme, se não chega a consumar-se plenamente como pastiche de ''Guerra nas Estrelas'' e ''O Senhor dos Anéis'', mais daquele do que deste, fica muito próximo. ''Eragon'' carece de identidade própria, é absolutamente genérico em sua narrativa, na descrição dos personagens e das situações.


Na abertura, a típica e solene narração que repõe a fatigada história: no passado, na terra de Alagaesia, os jinetes (cavaleiros seria incorreto por razões óbvias) de dragões mantinham a ordem, mas lutas internas e muita ambição provocaram uma grande guerra da qual restou apenas um sobrevivente, o vilão Galbatorix (calma, não estamos em terras gaulesas...), interpretado por John Malkovich.

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Ele agora administra um reinado de terror e opressão. Mas eis que há esperanças para o mundo, já que o camponês Eragon (Edward Speleers) descobre uma misteriosa pedra que, por acaso, resulta ser um ovo de dragão.


Com certeza devidamente chocado, já que se rompe para o nascimento de um simpático dragão, digo, dragoa, exuberante na simpática voz de Rachel Weisz - em Londrina estréiam duas cópias, uma dublada, outra legendada, e a voz brasileira do réptil alado é desconhecida. Adulta em poucos dias, Saphira revela telepaticamente a Eragon que ele foi escolhido para restaurar a paz e a justiça no mundo conhecido. Enquanto isto, um velho vagabundo, Brom (Jeremy Irons), inicia o rapaz nas artes da Magia.


Apesar de sua espantosa falta de originalidade e de atuações débeis do elenco, ''Eragon'' resulta entretenimento suportável, e até certo ponto indolor, administrando as indispensáveis bases do gênero: o resgate da princesa Aya (Sienna Guillory), o aporte de novos aliados, o sacrifício de um personagem importante e a batalha final com milhares de figurantes digitalizados para apenas algumas centenas reais.

Dirigido pelo estreante Stefen Fangmayer, o filme é uma discretíssima saga para consumo familiar - com ênfase óbvia no segmento infanto-juvenil -, com pouco mais de 100 minutos e facilmente olvidável à saída do cinema. Para a platéia teen que acorrer aos cinemas, ''Eragon'' traz duas atrações: a canção ''Keep Holding On'', na voz de Avril Lavigne e provável candidata ao Oscar da categoria (não por méritos naturais, mas para não deixar de acenar com alguma recompensa para uma superprodução de mais US$ 100 milhões, e a presença no elenco da cantora Joss Stone, no papel da bruxa Angela.


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