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Espiões do terceiro milênio

Carlos Eduardo Lourenço Jorge - Folha de Londrina
28 ago 2007 às 20:02

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- Divulgação
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Quando se entra num cinema hoje, e o que se anuncia é um filme hollywoodiano de ação, difícil é distinguir se o que está na tela é um playstation de última geração ou uma narrativa ficcional com personagens de carne e osso e sentimentos. Felizmente a trilogia Bourne (''A Identidade'', ''A Supremacia'' e ''O Ultimato'') vem na contramão daquela primeira e dominante tendência, mecânica, artificiosa, burra.

Matt Damon, o atual bom de bilheteria - em cada dólar que cobra, o filme arrecada (e lucra) na bilheteria outros 29 -, já confessou sua predileção por personagens que não são o que parecem. Ou vice-versa. No ''Infiltrados'' de Scorsese ele foi um mafioso na polícia de Massashusetts. Com direção de De Niro, em ''O Bom Pastor'', o insondável agente da CIA que tudo relega, família inclusive, a serviço míope da pátria. E com Jason Bourne, um personagem emocionalmente impenetrável, espião que se descobriu sem identidade no primeiro filme (2002) da série baseada nas novelas de Robert Ludlum.

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Na continuação, em 2004 (''A Supremacia Bourne''), o hermético agente rompeu as trevas da amnésia e tomou consciência do que era: uma máquina treinada para matar e que alguém tinha o máximo interesse em aniquilar.

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E nesta terceira, ''O Ultimato Bourne'', o mistério já mais ou menos suspeitado é afinal revelado por completo: o espião era parte de um programa da CIA que o transformou em assassino legal (?!) e anulou sua identidade anterior.

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Agora ele recupera não só a memória, mas a própria identidade, o seu Eu verdadeiro, isto depois de pavimentar sua trajetória pela Rússia, Marrocos, França, Inglaterra e Espanha com cadáveres, explosões e perseguições. É puro cinema de ação, de ritmo prodigioso, ao mesmo tempo efetivo e espetacular. E alguma coisa mais. Quem se encarregou de dirigir os dois últimos da trilogia foi o muito articulado Paul Greeengrass, mestre da narrativa em tempo real, como demonstrou em ''Domingo Sangrento'' e ''Vôo United 93''.


Se James Bond foi sempre o herói que usava sem escrúpulos sua licença 007 para matar, que se ligava às mulheres sem qualquer avaliação de riscos, na cama inclusive, vestia smoking e conduzia um Aston Martin pelas encostas de Monte Carlo, por usa vez Jason Bourne é um outsider desprovido de glamour, que sente na consciência o peso de cada morte, e que perde o amor de sua vida, Marie (Franka Potente).

Sem muito proselitismo, que certamente amarraria o ritmo do filme, subliminarmente Greengrass fez também um drama existencial, e de certa forma a procura insaciável de Bourne não deixa de ser uma jornada metafísica. O tempero político também está presente. ''Se você segue por esta via, quando poderá sair?'' , pergunta uma vigorosa democrata. ''Quando ganharmos'', responde o lado obscuro, parafraseando as ''seletivas'' sentenças de George Bush sobre ''bons'' e ''maus''.


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