Chega um momento na carreira de grandes cineastas em que eles são compelidos a se defrontar com o desafio que é contar a história de um grande homem - é bem verdade que, de certa forma, há o desejo de conferir se há semelhanças entre as respectivas imagens.
Coppola contou a história de Preston Tucker, o revolucionário da indústria automobilística que ousou afrontar Detroit, mais ou menos como o próprio cineasta cutucou Hollywood com vara curta. Ambos se deram mal. Martin Scorsese e Mel Gibson foram até Jesus, cada um a sua maneira.
Agora toca a Oliver Stone enquadrar Alexandre Magno, que partiu da Macedônia para conquistar o mundo antigo por nenhum outro motivo se não aquele que transparece na superprodução assinada pelo diretor: escapar da víbora que era a mãe dele.
A mãe de todas as mães-megeras do mundo. Com traços satanizados, Angelina Jolie incorpora Olímpia, cuja paixão pelo filho único tinha forte conotação incestuosa.
Para Alexandre (Colin Farrell), a trama edipiana se complica ainda mais porque, por sua vez, ele ama o maior inimigo de Olímpia, a propósito o marido dela e pai dele, Felipe, rei da Macedônia (Val Kilmer).
A disputa feroz entre Olímpia e Felipe acaba se insinuando em Alexandre de duas maneiras: em suas preferências (bi) sexuais e na postura guerreira e conquistadora (há quem prefira tirânica e predadora).
À medida em que o jovem colonizador vai amealhando povos e terras distantes, tantos até quase nada mais ter para conquistar (senhor da metade do mundo conhecido em apenas dez anos de campanhas militares, morto em plena glória aos 32), o roteiro de Stone, Christopher Kyle e Laeta Kalogridis reiteradamente remete o espectador de volta a uma Olímpia carente do filhote distante, a desfiar lamentações na melhor tradição de uma mãe judia.
O problema - apenas um deles - é que Stone se põe a psicologizar. Imaginem um cineasta, de resto um bom cineasta, mas não muito sutil, que decide perscrutar a alma e a vida sentimental de um ser quase mitológico - vida da qual, aliás, não se sabe grande coisa. O resultado é muita conversa por nada, uma série interminável de enfrentamentos pseudo-profundos mas ocos como vasos gregos.
Colin Farrell é um dos recentes ''monstrinhos'' que a máquina insaciável criou. Sem maiores comentários para aqueles cabelos muito louros para serem verdadeiros (uma peruca ?!) ou para aquelas sobrancelhas pintadas.
O bizarro exterior de surfista californiano seria melhor assimilado se a performance fosse verossímil neste papel de soberano. Mas falta nobreza, carisma, convicção. E ele não está só: Jared Letho, o íntimo Hephestion, também parece deslocado. E la Jolie, bem, a garota está mais para Lara Croft.
Dois parênteses. A reconstituição de época é portentosa, e as batalhas, grandiosas e eficazes. O todo é luxuriante, espesso, ambicioso em demasia. Em tudo e por tudo, até pelo tamanho (2h45m), ''Alexandre'' é como aqueles velhos filmes kitsch dos anos 1950. Parece interminável, mas é impressionante.
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