Estreias

'Em Busca da Terra do Nunca' chega a Londrina

18 fev 2005 às 11:46

Falta apenas ''Ray'', lançado nas capitais, para o espectador londrinense ficar totalmente em dia com as cinco produções que estão concorrendo na principal categoria do Oscar-2005, já que as demais estão nas telas da cidade.

Está chegando ao circuito local o surpreendente porque é muito simpático e carinhoso ''Em Busca da Terra do Nunca'', com argumento centrado numa fase especial da vida do escritor e autor teatral J. M. Barrie, criador de um dos mais festejados personagens da literatura infantil, Peter Pan.


Esta é uma das diversas cinebiografias mera coincidência, modismo de temporada ou preguiça criativa? que estão neste momento nas telas do mundo, várias delas com o Oscar na mira.


O focalizado em questão, James M. Barrie (1860-1937), chega ao cinema neste ''Finding Neverland'' em roteiro adaptado da peça de Allan Knee, ''The Man Who Was Peter Pan'', destacando particularmente a relação de Barrie (Johnny Depp) com a jovem viúva Sylvia Llewellyn Davies (Kate Winslet) e seus quatro filhos, um deles, Peter, provável inspiração para o ''garoto que não queria crescer''.


O filme, fora de concurso na mesma edição de Veneza que premiou outra estréia do dia, ''Mar Adentro''(ver reportagem na capa deste caderno), contém mais emoções complexas do que pode parecer na superfície, o que o torna ainda mais atraente.


Há, é claro, a Terra do Nunca, cuja descoberta literária o filme encena, e que nunca é apresentada como um mundo alternativo, mas sim como uma paisagem cujos componentes originais pertencem à vida vivida por adultos e crianças.


Neste sentido, ''Em Busca da Terra do Nunca'' é um desafio, tanto ético como estético, à mesmice televisiva quase obscena que conseguiu reduzir as representações correntes das crianças a um dos dois estereótipos: ou vítimas sempre ameaçadas ou caricaturas de uma inocência sem vida.


O diretor Marc Forster prossegue sua carreira bem iniciada com ''A Última Ceia'' curiosamente com um projeto muito diferente na aparência, mas semelhante na temática de emoções reprimidas, com personagens buscando consolo em situações nada comuns.


Portanto, não há porque esperar uma lição da história como ela de fato ocorreu na Londres edwardiana do inicio do século 20, e sim aderir a uma visão idealizada e fantástica da gênese de Peter Pan, incluindo sequências imaginárias em que Barrie e os meninos abordam um navio pirata, lutam contra os índios e, obviamente, levantam vôo.


No coração deste filme que evita qualquer referência ou mesmo distante analogia a questões como pedofilia ou adultério a relação de Barrie com as crianças Llewelyn e com a viúva Sylvia aparece absolutamente assexuada está Johnny Depp, que dá serena credibilidade à condição de homem-criança que caracterizou Barrie, um personagem sempre avesso à falsidade das máscaras sociais.

Com elegância e leveza, ele se faz passar sem maior esforço por um personagem de fábula. Sempre com infinito respeito pelo riso e pela seriedade das crianças.


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