Estreias

Depois de passar por Curitiba, 'No Vale das Sombras' reabre sala da UEL

11 jan 2008 às 15:07

Depois de quatro meses com exibições suspensas - problemas técnicos no aparelho de projeção, afinal resolvidos -, o único canal de cinema em Londrina sintonizado com a programação alternativa mundial volta à ativa.

O Cine Com-Tour/UEL reabre as portas com a exibição de ''No Vale das Sombras'', um drama sobre aquilo que pode ser chamado de ''efeitos colaterais graves''. No caso, da invasão americana ao Iraque.


É um daqueles filmes incômodos, um daqueles em que a parcela consciente e pacífica dos Estados Unidos reflete sobre si mesma e, sobretudo, sobre os danos, muitos irreversíveis, causados pela guerra.


Este era um projeto logo de saída curioso, envolvendo um republicano de mente aberta e um democrata empenhado, isto é, um determinado Clint Eastwood e um combativo Paul Haggis, já premiado com um Oscar pela direção de ''Crash''. O primeiro deu seu aval e total apoio nas negociações com a Warner, propiciando ao segundo liberdade total para filmar um roteiro ácido sem que fosse sacada uma vírgula sequer.


O argumento tem como tema a guerra do Iraque, mas ela é focalizada indiretamente. O teatro onde se combate comparece apenas em alguns vídeos com cenas das quais participam militares dos Estados Unidos em situações de violência ordinária.


De fato, é na volta à pátria que a ação principal do filme se desenrola. Um pai, Hank Deerfield (Tommy Lee Jones, a esfinge de carne e osso que é sempre um prazer desvendar a cada novo filme), ex-combatente no Vietnam, ancorado em valores da bandeira e da disciplina, é informado de que o filho, recém-chegado do Iraque, desapareceu.


Deste ponto nasce sua busca tão minuciosa quanto necessária e dolorosa, e ao fim ele descobrirá que o rapaz, da pessoa normal que era, como tantos outros jovens combatentes, transformou-se numa besta humana capaz das maiores atrocidades. E isto trará consequências trágicas para todos.


Durante o processo de investigação em busca do filho (e da verdade), Hank será auxiliado por uma policial corajosa e enérgica (Charlize Theron, bravíssima), mãe solteira capaz de compreender o tormento daquele pai à procura de entendimento. E pacificação.


A bandeira americana, já protagonista do roteiro que Haggis escreveu para a direção de Clint em ''A Conquista da Honra'' (a dupla afiada também assina ''Menina de Ouro'', não se esqueçam), é elemento essencial para a validação do recado do filme.

A imagem da ''stars and stripes'' de cabeça para baixo, ao final hasteada por Tommy Lee Jones, é o rito de passagem do particular (a tragédia pessoal dele, pai) para o discurso global. Do âmbito puramente estadunidense e sua responsabilidade pelo conflito iraquiano passa-se para um mundo sem fronteiras. A bandeira de cabeça para baixo é, ou deveria ser, a bandeira de todos nós.


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