Depois de quatro meses com exibições suspensas - problemas técnicos no aparelho de projeção, afinal resolvidos -, o único canal de cinema em Londrina sintonizado com a programação alternativa mundial volta à ativa.
O Cine Com-Tour/UEL reabre as portas com a exibição de ''No Vale das Sombras'', um drama sobre aquilo que pode ser chamado de ''efeitos colaterais graves''. No caso, da invasão americana ao Iraque.
É um daqueles filmes incômodos, um daqueles em que a parcela consciente e pacífica dos Estados Unidos reflete sobre si mesma e, sobretudo, sobre os danos, muitos irreversíveis, causados pela guerra.
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Este era um projeto logo de saída curioso, envolvendo um republicano de mente aberta e um democrata empenhado, isto é, um determinado Clint Eastwood e um combativo Paul Haggis, já premiado com um Oscar pela direção de ''Crash''. O primeiro deu seu aval e total apoio nas negociações com a Warner, propiciando ao segundo liberdade total para filmar um roteiro ácido sem que fosse sacada uma vírgula sequer.
O argumento tem como tema a guerra do Iraque, mas ela é focalizada indiretamente. O teatro onde se combate comparece apenas em alguns vídeos com cenas das quais participam militares dos Estados Unidos em situações de violência ordinária.
De fato, é na volta à pátria que a ação principal do filme se desenrola. Um pai, Hank Deerfield (Tommy Lee Jones, a esfinge de carne e osso que é sempre um prazer desvendar a cada novo filme), ex-combatente no Vietnam, ancorado em valores da bandeira e da disciplina, é informado de que o filho, recém-chegado do Iraque, desapareceu.
Deste ponto nasce sua busca tão minuciosa quanto necessária e dolorosa, e ao fim ele descobrirá que o rapaz, da pessoa normal que era, como tantos outros jovens combatentes, transformou-se numa besta humana capaz das maiores atrocidades. E isto trará consequências trágicas para todos.
Durante o processo de investigação em busca do filho (e da verdade), Hank será auxiliado por uma policial corajosa e enérgica (Charlize Theron, bravíssima), mãe solteira capaz de compreender o tormento daquele pai à procura de entendimento. E pacificação.
A bandeira americana, já protagonista do roteiro que Haggis escreveu para a direção de Clint em ''A Conquista da Honra'' (a dupla afiada também assina ''Menina de Ouro'', não se esqueçam), é elemento essencial para a validação do recado do filme.
A imagem da ''stars and stripes'' de cabeça para baixo, ao final hasteada por Tommy Lee Jones, é o rito de passagem do particular (a tragédia pessoal dele, pai) para o discurso global. Do âmbito puramente estadunidense e sua responsabilidade pelo conflito iraquiano passa-se para um mundo sem fronteiras. A bandeira de cabeça para baixo é, ou deveria ser, a bandeira de todos nós.