Não há de ser este deplorável, insignificante exemplar hollywoodiano - vale a redundância - que vai deixar as coisas piores para o País, em relação à imagem geral desfrutada no exterior não é de hoje - e por razões e motivos que sabemos de sobra e que não cabem em exíguo espaço de crítica de cinema. O filme em referencia é ''Turistas'', que chega ao Brasil depois de muito que se falou sobre ele.
E cabe logo a pergunta: o que mexe tanto com o amor próprio tupiniquim em casos como este, a ponto de gerar protestos oficiais, manifestações do Ministério das Relações Exteriores e órgãos como Embratur? O resultado é tempestade em copo d'água, pretexto para patriotadas de ocasião, acirramento de birras ideológicas de grupos cripto-idiotas, à esquerda e à direita.
Desocupados de plantão, à espera de uma insignificância qualquer para praticar proselitismo político. Ainda ecoa a velha e sempre atual frase lapidar do velho De Gaulle, tão crucificado porque apenas repercutiu mundialmente o óbvio sobre a falta de seriedade do Brasil.
O diretor Stephen Frears, de ''A Rainha'', fez há poucos anos grave denuncia sobre ''roubo'' e tráfico de órgãos humanos em Londres, no subestimado "Coisas Belas e Sujas". Nem por isso o governo da Inglaterra carnavalizou em cima. Provavelmente pelo alto nível do filme e pela veracidade da denúncia. Aqui não há nível e nem denúncia, somente perda de tempo e dinheiro.
Começa por aí. Quem assina esta rematada bobagem que ganhou imerecido destaque na mídia é John Stockwell. E por que ele fez este filme? Porque foi assaltado e baleado por meninos de 13 anos, sabem onde? No Peru... Espécie de vingança pessoal.
O Brasil passou a ser o continente, na visão do cineasta. Não temos isto por aqui? Claro que temos. O inferno entre nós, a julgar pelos fatos recentes, está tão habitado pela menoridade excluída como pela maioridade em todos os segmentos, da marginália dos PCCs ao Congresso Nacional.
O problema é que as mazelas sociais do terceiro mundo têm ingredientes de horror que acabam capitalizados como ''entretenimento''. E a denúncia perde então qualquer propósito de seriedade, se é que havia.
O filme começa com um grupo de turistas estrangeiros num ônibus que percorrerá o litoral carioca. Entre eles há vários personagens bonitos, saudáveis, glamourosos, sensuais, ingênuos (?), pouca roupa porque é Brasil. São os protagonistas - e as vítimas em potencial da trama. Os turistas do título, em busca de exotismo e extravagâncias diversas.
Um acidente com o ônibus em local afastado. O grupo nas mãos de um sequestrador que não quer dinheiro, mas aparentemente vingança contra estrangeiros que trabalhariam com tráfico internacional de órgãos de crianças roubadas no Brasil. O objetivo não fica lá muito claro.
Há evidentemente esta tentativa de dar cores políticas ao sequestro dos tais turistas, o que torna a coisa toda ainda mais improvável, mirabolante, carregada de clichês, estereótipos e falsa engenharia de suspense. Stockwell só faz provocar, excitar, estimular os hormônios sexuais dos personagens e por extensão da platéia, já que sua história só tem pretensões sensoriais.
Na realidade, o que o espectador recebe é 4overdose de violência, nenhuma profundidade psicológica, nenhum respeito pela realidade brasileira. Nem o público mais afeito a propostas cinematográficas deste subgênero embarcou na farsa: o filme foi enorme fracasso de bilheteria, e continua em queda livre. Custou 10 milhões de dólares e, em sete semanas nos EUA fez apenas 7. Merecidamente.