Três Globos de Ouro conquistados há algumas semanas - melhor filme musical, melhores ator e atriz coadjuvante, Eddie Murphy e Jennifer Hudson. Oito indicações ao Oscar. Com esta credencial, que nesta época sempre move mais e melhor a engrenagem comercial de qualquer lançamento, chega às salas brasileiras o musical ''Dreamgirls''. Embora com qualidades, é no todo um filme desigual em sua proposta de reconstituição da época em que a reivindicação da fama fazia coro com outra mais importante, de natureza social e racial.
A história de ''Dreamgirls'' transcorre no período compreendido entre o início dos turbulentos anos 1960 e a metade dos 70. O roteiro descreve a trajetória artística de um trio de mulheres negras saídas de um entorno social humilde: Effie (Jennifer Hudson), Deena (Beyoncé Knowles) e Lorrell (Anika Noni Rose).
Elas formam um promissor grupo de cantoras chamado The Dreamettes. Descobertas pelo ambicioso empresário Curtis Taylor (Jamie Foxx), ganham a chamada oportunidade de ouro: trabalhar como coristas para o famoso cantor James Thunder Early (Eddie Murphy).
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Aos poucos, Curtis profissionaliza o trio, tanto no aspecto visual, de roupas e produção de palco, como na definição do repertório. Elas são afinal lançadas como The Dreams. Logo, todos os focos se centram em Deena, enquanto se afastam da menos atraente, mas muito eficiente Effie.
O sucesso vira fenômeno, costa a costa. Mas elas vão compreender que fama e fortuna cobram um cachê pessoal muito alto, às vezes impossível de pagar.
Baseado em aclamada montagem dirigida de Michael Bennett, e estreada na Broadway em 1981 - seis prêmios Tony e cinco anos em cena -, ''Dreamgirls'' na verdade é a crônica da ascensão e glória do grupo Diana Ross e The Supremes. O diretor Bill Condon (''Deuses e Monstros'', ''Kinsey - Vamos Falar de Sexo'') demonstra intimidade com o processo de transposição do musical do palco para o cinema, o que já tinha deixado claro ao escrever em 2002 o roteiro do premiado Chicago.
Além disso, buscou compreender o contexto histórico, acrescentando cenas de conflitos sociais em Detroit e enfatizando aquele período tanto no recorte de comportamentos quanto na ambientação cenográfica - a direção de arte é um dos quesitos concorrentes ao Oscar.
''Dreamgirls - Em Busca de Um Sonho'', porém, tem lá seus problemas. É filme de construção irregular, com base em roteiro que em nenhum momento aprofunda os personagens ou os faz interagir dramaticamente com o meio onde estão inseridos. Depois do início promissor, tudo é movido por uma incompreensível pressa, atenuada somente quando um ou outro numero musical se impõe. Há uma quantidade indesejada de digressões na trama, com histórias tangenciais que não fariam falta se excluídas.
Mas há compensações que acabam valendo o ingresso. Como a força e a intensidade de várias sequências com números musicais, especialmente os que ajudam a contar a história do grupo. E particularmente aqueles em que intervém a estreante Jennifer Hudson, soberba, com voz preciosa e carregada de sentimento - difícil conter a emoção ouvindo a moça cantar ''And I Am Telling You I'm Not Going''.
Outro ponto de sustentação é o elenco coral, com Beyoncé Knowles se superando como a personagem de imagem bem diversa de seu brilho natural, e Eddie Murphy comovente como uma patética celebridade.