O francês Luc Besson, francês de nascimento mas hollywoodiano até a medula, escreveu o roteiro e produziu este ''Cão de Briga'' (Danny the Dog) que está entrando hoje no circuito nacional. O filme é um desses híbridos genéricos bem ao feitio de Besson, dirigido por Louis Leterrier, diretor deste ''Carga Explosiva 2'' que esteve até alguns dias atrás em algumas salas de Curitiba e Londrina.
De qualquer maneira, provavelmente ninguém irá ao cinema por estes motivos: ''Cão de Briga'' é o novo veículo para Jet Li, a mais importante figura das artes marciais de Hong Kong surgida nos últimos 15 anos, desde que interpretou a série épica ''Era Uma Vez na China'', de Tsui Hark.
Cooptado pelas sereias dolarizadas do hemisfério ocidental, nesta história o ator é o personagem-título. Ele é o homem que desde sempre foi tratado e treinado como cão selvagem por um mafioso de Glasgow (Bob Hoskins, ícone do gangsterismo do cinema britânico), que o usa como arma mortal contra quem não anda na linha, quer dizer, os maus pagadores.
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Danny é de fato uma irreflexiva máquina assassina, alguém que pouco contato teve com o mundo exterior e que passa boa parte do tempo trancado numa cela.
Até aqui é um típico filme de artes marciais, com Jet Li destroçando ossos como gravetos, enquanto a câmera de Leterrier faz os ralenti como em ''Matrix'', e o mesmo coreógrafo deste trilogia, Yuen Woo-ping, arma sequências impossíveis em que um só homem parte em pedaços dezenas de rivais. A favor de ''Cão de Briga'' deve-se pelo menos dizer que Jet Li é muito mais convincente do que Keanu Reeves.
Numa das ''cobranças'' que Danny sai para fazer, um acidente tira de cena o ''dono do cão'', que agora passa a viver em companhia de um afinador de pianos cego (Morgan Freeman). Aqui começa o processo de reeducação da fera, a parte (melo) dramática do filme. Que vai durar até que o passado violento volte para uma cobrança.
O roteiro tenta trabalhar o conflito de alguém que, sempre direcionado ao crime, de repente descobre sua natureza sensível. E pacífica. O dilema agora a ser resolvido: já civilizado, o ex-cão de briga deve voltar a praticar a violência, não só para liberta-se de vez mas também para vingar-se.
Que o filme recorra a muitos clichês dramáticos e ofereça ao espectador um pálido mostruário do talento de Li para a ação física é apenas uma de suas debilidades. As coreografias de lutas são poucas, e todas confirmam a sensação do já visto.
O que parece mais comprometedor nesta segunda tentativa de Besson (a primeira, bem melhor, foi ''O Profissional'') é conciliar o cruzamento de filme de ação com drama intimista: as duas frentes saíram aqui chamuscadas, com perdas e danos).
Pensando bem, assistir Jet Li durante boa parte da projeção reduzido à dislexia e à incultura de seu personagem é ter muito definida uma boa metáfora. Isto é, a idéia que a dupla Besson & Leterrier têm do cinema de artes marciais: um cão de exibição que se leva a passear para o prazer do dono.