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''Anti-Herói Americano'' chega ao Paraná

Claudio Yuge
06 set 2004 às 19:14

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Harvey Pekar (com a esposa Joyce) é um típico cidadão norte-americano medíocre e sem grandes expectativas. Sua obra é um reflexo de sua vida - Divulgação
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Finalmente entra em cartaz, em pelo menos uma sala paranaense, a adaptação cinematográfica de ''American Splendor'', de Harvey Pekar e seu mais ilustre colaborador, o talentoso quadrinhista Robert Crumb. Batizado de ''Anti-Herói Americano'', o filme está em exibição no Cine Ritz, em Curitiba.

American Splendor nasceu em 1976, das idéias de Harvey Pekar, um típico cidadão norte-americano medíocre e sem grandes expectativas com relação ao futuro. Arquivista e morador de um legítimo ''moquifo'', Pekar, irritado com seu cotidiano sem-graça e de situações nada agradáveis - como enfrentar filas de supermercados e compromissos burocráticos -, passou a escrever histórias em quadrinhos, influenciado por Robert Crumb, sujeito que conheceu aos 23 anos, em 1962, devido à paixão comum de ambos por jazz e discos de vinil. Como Pekar mal sabe rabiscar bonecos de palitinhos, pediu, anos mais tarde, para que Crumb desenhasse e, para surpresa do escritor, ele aceitou.

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A partir daí, Crumb, que já se destacava e ficava conhecido pela sua obra ácida, como em ''Mr. Natural'' e ''Fritz, The Cat'' (ambos lançados em território nacional pela editora Conrad), acabou ajudando a promover American Splendor. Capitaneado pelas imagens distorcidas de Crumb, Pekar conseguiu levar para as páginas suas críticas corrosivas ao ''capitalismo selvagem'' e ao 'American Way of Life'. Foi esse tipo de obra que ampliou o leque de produções da chamada contracultura nos quadrinhos norte-americanos e estabeleceu o ''quadrinho de autor'', sempre autobiográfico e sem grandes pretensões comerciais.

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A série passou a fazer sucesso e outros grandes nomes como Gary Dumm, Joe Sacco, Frank Stack e Joe Zabel passaram a ilustrar as histórias de Pekar. Um dos episódios mais marcantes na ascensão de American Splendor foi o constante bate-boca com o apresentador David Letterman. Chamado para falar sobre a revista, Pekar sempre discutia com o anfitrião do talk-show e chegou até mesmo a questionar sua emissora e a razão do programa existir, em uma sessão que chegou a ser retirada do ar devido ao clima hostil da entrevista.

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Tudo isto está nas páginas de American Splendor, inclusive a esposa de Pekar, seu amigo nerd (que chegou a ser alvo de um ''Achamos o verdadeiro nerd'', quadro da MTV norte-americana), entre outros personagens reais que transitam na revista. E, agora, essas histórias estão no filme.


A película é extremamente fiel aos quadrinhos, que dão o ar da graça, do mesmo jeito em que aparecem no papel, durante a projeção. A narrativa explora a animação e outros recursos da nona arte, como os balões. Sempre há uma referência à obra original. E o melhor de tudo: desta vez, diferente de outras adaptações, o cinema realmente contribuiu para melhorar e ampliar o conceito incial.

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Não só pela agilidade dos diálogos e pela dinâmica das imagens, que conseguem transmitir um tom ainda mais natural e realista do que na revista. Mas também porque história e autor se fundem em relatos do próprio Pekar, que se olha na revista, admira seus próprios defeitos na película, e discute com o espectador sua condição de ser humano, falível e mortal. O relato intimista aproxima, identifica e consola sem precisar apelar para o escapismo fantasioso. E, no final das contas, quem leu a revista quer ver o filme de novo e quem sai da projeção quer conhecer sua versão impressa, infelizmente ainda não publicada no Brasil.


American Splendor, o quadrinho, levou à produção do premiado ''Our Cancer Year'' (Nosso Ano do Câncer), graphic novel produzida por Pekar e sua esposa, junto com o ilustrador Frank Stack, enquanto Pekar lutava contra o câncer. O filme foi produzido em 2003 pelos cineastas Robert Pulcini e Shari Springer Berman e chegou a ser indicado por Melhor Roteiro Adaptado este ano.

Infelizmente, somente o Cine Ritz, em Curitiba, está exibindo o filme no Paraná, em sessões diárias, às 17 horas e 19 horas, com entradas a R$ 5. Para alívio de quem não estiver em Curitiba ou não assistir antes de sair de cartaz, ''Anti Herói Americano'' deve estar logo nas locadoras.


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