Em lançamento nacional, com 60 cópias espalhadas por salas das principais capitais, ''Anjos do Sol'' é mais um brasileiro em competição no Festival de Gramado. Escrito e dirigido por Rudi Lagemann, outro gaúcho da geração de Jorge Furtado que se lança no longa metragem, o filme aborda e ficcionaliza com crua franqueza documental a prostituição infantil, uma das mais agudas questões sociais do país.
O roteiro não tem meias palavras sociológicas ou faz qualquer proselitismo. Através da emoção, tenta monopolizar a atenção da platéia com a história de Maria, menina de 12 anos. Ela percorre, de mão em mão criminosa, um pesado caminho sem volta, um corredor de horrores que começa na venda pelos pais, passa por um leilão de virgens e prossegue na manipulação/exploração por cafetões do interior ou da cidade grande. O pesadelo, claro, jamais termina. O final em aberto é a própria chaga social que não é tratada por ninguém. Talvez se ouça falar do assunto, neste tempo pré-eleitoral.
Lagemann, publicitário de sucesso no Rio, optou pelo recorte do clássico filme denúncia, pelo impacto emocional como elemento catalisador de consciências. Como prós de imediato reconhecimento: a informação veiculada e autenticada a partir de números oficiais, a dramatização dos fatos realizada com objetividade, sem recorrer à chantagem da lágrima, a evidente honestidade de propósitos e a urgência do tema, transformada em medidas concretas.
Vale dizer, na semana passada produtores do filme assinaram em Brasília acordos com a Organização Internacional do Trabalho e a com Fundação Abrinc para garantir a distribuição de milhares de cópias quando o filme sair em DVD.
Os contras detectados alguns excessos maniqueístas e na composição caricatural de alguns personagens masculinos não chegam a prejudicar o conjunto de grande impacto.