A mais recente animação da DreamWorks já entrou para as antologias do cinema, não pelo charme, simpatia e outras qualidades visíveis, mas pelo feito histórico (e para muitos discutível) de ter sido pela primeira vez exibida em público 4,8 mil espectadores na improvisada e mais bela sala ao ar livre do mundo, a Piazza San Marco, em setembro durante o Festival de Veneza.
Foi uma grande, dispendiosa e ultravigiada festa, antecipando o lançamento nos principais mercados do mundo. Tivesse sido ''Shrek'' e o resultado seria uma repercussão ainda maior.
De novo o pessoal esperto da DreamWorks investe na questão da aparência para contar uma história capaz de envolver sem distinção crianças e adultos.
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Embora com menos humor e mais contida dose de paródia, ''O Espanta Tubarões'' retoma o tema da posse material em confronto com o sentimento, isto é, o que importa sempre é o que se sente de verdade, e não aquilo que é exterior ou superficial.
Aquilo que a raposa disse ao pequeno príncipe de Saint-Exupéry, sobre o essencial ser invisível aos olhos. O recado do filme ainda prescreve que mentira tem perna curta e dinheiro não traz felicidade, de resto noções velhas e há muito sabidas.
A repetição desta moral, e que faz a novidade, é que tudo é entregue à platéia sem que a criançada seja obrigada a filosofar enquanto saboreia sua pipoca.
Oscar (Will Smith, na versão original) é peixe pequeno com grandes e insustentáveis ambições. Tem delírios de grandeza. Quer morar num lugar que pareça Times Square. Não tem idéia de que pode ser grande só com seu pequeno coração. Desconhece atitude, só valoriza o tamanho. Vira charlatão.
O argumento é mínimo: Frankie, filho do tubarão mafioso Don Lino (Robert De Niro), é encontrado morto. Oscar se aproveita de uma certa circunstância e diz que foi ele. É mentira, claro, mas o anúncio da proeza ganha a admiração de todos, além do ódio do pai do falecido e o amor fácil da oferecida Lola (Angelina Jolie). A fiel e verdadeira Angie (Renée Zellweger) aguarda e faz de tudo para ajudar Oscar.
A questão é divertir toda a família, mas isto não é lá muito fácil quando se sai do mundo de fala inglesa e a dublagem se torna necessária. Este recurso traz os menores para o convívio das salas, mas abre mão das vozes carismáticas de Robert De Niro, Peter Falk, Martin Scorsese, Will Smith, Jolie e Zellweger, e leva embora quase toda a graça alusiva a ''O Poderoso Chefão'' e a outras brincadeiras com o universo dos gângsteres na tela ou fora dela, motivo do mau humor de parte da comunidade ítalo-mafiosa dos Estados Unidos, que se viu retratada no filme de maneira pejorativa.
Em Londrina, apenas a versão dublada em português está disponível. Em Curitiba, há apenas uma versão legendada, mas dificilmente deve estar em cartaz até a segunda semana de exibição.
No mais, a animação com a grife DreamWorks segue tecnicamente mais aprimorada e com gags sempre divertidas, embora aqui menos originais. O humor sutil continua mantido alguém teria imaginado degustar sushi no fundo do mar? , e a garotada também recebe sua porção de anedotas gráficas e diretas. Um bom presente para o feriadão compulsório.