Um dos novos (e já consagrados) diretores de Israel, Eytan Fox conseguiu com apenas três filmes aliar um enorme interesse do publico europeu, norte-americano e asiático com a adesão empolgada de grande parte da crítica - somente a ala conservadora de Israel o detesta, e você saberá por que vendo ''The Bubble'', que entra em cartaz no circuito local.
A ''bolha'' do título (não traduzido para o português) é referência mais a certo comportamento existencial do que a um local propriamente dito. De qualquer modo, o argumento se passa num bairro de Telavive, onde muitos jovens transitam no descolado ambiente mundano. Ali se reproduzem atitudes e modos de vida que lembram ilusoriamente o lado boêmio de Nova York ou Paris. As pessoas retratadas por Fox, embora teoricamente vivendo nesta ''bolha'' em busca de proteção, nunca estão a salvo, porque a qualquer momento a violência dos choques entre Israel e Palestina pode ocorrer e destruir a tudo e a todos - inclusive esta espécie de gueto civilizado.
São três personagens, sob um mesmo teto. Um casal gay e uma jovem sexualmente muito liberada. Amigos íntimos e próximos, mantém a mesma visão de entendimento sobre o que ocorre ao redor, além de compartilhar solidariedade, sexo, solidão e amor. Mas durante incidente num posto de fiscalização militar, um dos rapazes conhece um jovem palestino que ajuda uma mulher grávida. Entre os dois há imediata empatia e atração. Esta intimidade vai alterar a dinâmica e a interação entre o israelense e seus dois companheiros de casa. E a realidade do conflito inesgotável entre os dois países vai afetar o agora quarteto de maneira dramática.
São dois os temas recorrentes no cinema de Eytan Fox, nascido em Nova York mas desde sempre criado e educado em Israel. Primeiro, a maneira que o país vê e julga os homossexuais; e segundo, a crítica situação que leva todos seus habitantes, indistintamente, a viver em permanente estado de guerra. Lido assim pode parecer coisa cerebral, matéria de cinema propícia a intelectualismos e entornos.
Mas não é por acaso que Eytan Fox se dá tão bem com o grande público. Seu filme, sem dúvida polêmico, tem até cara de produto hollywoodiano leviano e vendável, porém feito a partir de ótimos neurônios. O retrato agradável e emblemático que ele faz da juventude israelense abre de cara um canal de comunicação com o segmento jovem, seja ele gay ou hétero.
Aliás, esta releitura da ''love story'' shakespeariana, agora versão Romeu & Romeu, mostra como o homossexualismo é vivido de maneira distinta nas duas culturas, de um lado o israelense hedonista circulando numa Telavive efervescente, e de outro o universo empobrecido, ameaçado e asfixiante onde sobrevive o palestino.
Narrada com habilidade, esta história ágil e sensível a um só tempo é apenas outro exemplo da vitalidade das muitas cinematografias emergentes que buscam espaços para respirar no mercado exibidor mundial, fazendo da diversidade temática o maior trunfo.