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Alta combustão

Carlos Eduardo Lourenço Jorge - Folha de Londrina
10 fev 2006 às 10:08

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George Clooney: ator surge gordo, barbudo e talentoso como um agente da CIA - Divulgação
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Chega ao circuito brasileiro o segundo longa metragem do diretor Steve Gaghan, o roteirista do ótimo ''Traffic'', de Steve Soderbergh. Em ''Syriana'' ele de certa forma retoma e aprofunda aquela estrutura de filme coral sobre o universo da droga, expondo agora um emaranhado de poderosas corporações petrolíferas, grupos terroristas, funcionários manipuladores, biliardários árabes, financistas especuladores, advogados inescrupulosos, enfim, toda a fauna que compõe este amplo painel da alta trapaça globalizada.

Se você ainda não viu ''Munique'' por qualquer razão, agora já tem uma bem consistente para assistir o filme de Spielberg. ''Syriana'' está numa das salas vizinhas, e como nenhum dos dois parece apetecer ao grande público, este ano órfão de Oscar escapista, os dois não devem ficar muito tempo em cartaz.

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Neste momento em que Hollywood parece estar falando mais grosso e desferindo farpas sobre o papel dos Estados Unidos nos conflitos do Oriente Médio, é exercício estimulante perfilar os dois trabalhos. Há muitos pontos de contato, como também há diferenças na abordagem de problemas semelhantes.

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Embora ''Munique'' esteja centrado no conflito árabe-israelense e ''Syriana'' pareça mais interessado na relação promíscua entre xeques árabes, terrorismo (o de Estado e o outro) e a indústria do petróleo, os dois investem no choque de culturas e no confronto entre visões de mundo mais semelhantes do que parecem.

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Enquanto ''Munique'' opta por uma narrativa clássica com construção de personagens bem definidos, deixando de lado a temática econômica para privilegiar o conflito moral, ''Syriana'' usa um tom seco, realista, quase documental para cruzar as histórias de cerca de uma dúzia de personagens ligados à indústria do petróleo.


Mas os dois falam a mesma linguagem quando traçam paralelos e semelhanças entre a ascensão ao poder dos fundamentalistas islâmicos e os falcões neo-conservadores norte-americanos.

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Como é frequente nesses casos, o resumo da ópera é bem complicado nesses casos. Como ponto de partida para o trabalho da inteligência do espectador (é o pré-requisito mínimo), ''Syriana'' parte de um agente da CIA (George Clooney, gordo, barbudo e talentoso) enviado para matar um xeque que se opõe ao controle dos Estados Unidos ao país.


Há assessores (Matt Damon, entre eles), há os cabeças das corporações norte-americanas do petróleo tratando de unir forças para tirar contratos dos chineses e, claro, afastar qualquer tipo de investigação oficial que possa expor os mecanismos de corrupção. Neste forno aquecido à potência máxima, acrescente-se muçulmanos muito irados e muito armados.

Há subtramas e subtramas - Gaghan é fascinando pelos detalhes - sempre a desafiar a capacidade de enxadrista do espectador. Ainda que todos os segmentos não tenham a mesma eficácia, que uma certa confusão paire aqui e ali e que o esquematismo assine o ponto em alguns momentos, nenhuma dúvida de que ''Syriana'' é afinal um desses thrillers que resultam num eficaz mosaico sobre os abusos do capitalismo selvagem (vale a redundância), o fanatismo religioso e os cada vez mais flexíveis limites (ou a falta de) da globalização na luta pelo poder político e econômico.


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