Poucos os cineastas a quem se pode chamar de pais de um gênero cult tão feroz. Tão feroz quanto as hordas de zumbis que infestam a série de filmes que os fizeram tão famosos.
Depois de vinte anos de espera, 'Terra dos Mortos' chega como último, mas não derradeiro título da tetralogia iniciada em 1968. Naquele ano emblemático estreava a hoje mítica 'A Noite dos Mortos Vivos'. Agora, depois de dois filmes entre aquele celebrado início e hoje, a maioria da população do planeta está morta...e faminta.
No mundo semi devastado por guerras e pestes, os zumbis não apenas aumentaram muito em número como circulam em busca de um pedaço de carne humana.
Também estabeleceram um diálogo entre eles, agora não mais rudimentar, e marcham em hordas rumo à cidade grande, cercada por muralhas dentro das quais as diferenças sociais chegaram a níveis insustentáveis.
De um lado o povo flagelado por violência, drogas, tráfico de armas, jogatina e prostituição; de outro, os ricos ilhados em luxuosos edifícios rigorosamente protegidos por forças de segurança e grupos de mercenários contratados para conter o avanço dos zumbis.
Em meio a esta luta de classes há um grupo de (anti) heróis ocupados com missões impossíveis. Três tipos, interpretados por Simon Baker, a bomba sexy Ásia Argento e Robert Joy, são os protagonistas, em contraposição a um mercenário (John Leguizamo, hilário) e ao tirânico magnata (Dennis Hopper).
Em todos seus filmes, Romero sempre soube mesclar comentário social e político com a atmosfera rascante do horror. Aqui não seria diferente, já que a fórmula sempre funciona. Os ricos atuam como se não existisse nada além dos prazeres hedonistas. Naturalmente, a colisão frontal com os mercenários, que renunciaram a comodidades e amenidades para seguir vivendo, será épico.
Se somarmos a isto a presença repulsiva dos monstros canibais em franco crescimento populacional, o resultado é a combinação mais explosiva de ação e horror desde 'Alien', de Ridley Scott.
Há engenho, criatividade e aquela assumida e aqui funcional opção pela estética ''gore'' (explicitude de vísceras, corpos desmembrados, enxurrada de sangue), da qual Romero retira o melhor proveito. Os fãs do diretor ficarão fascinados, já que, ao manipular o maior orçamento em toda sua carreira (U$ 18 milhões, troco perto de ''Guerra dos Mundos'' ou ''Batman Begins''), ele veio com tudo e em alta voltagem, sem concessões, e sem compromissos.
E se algo a reprovar, trata-se de um problema de roteiro, mais especificamente na definição dos personagens, que nunca aparecem bem acabados, restando então ao elenco sempre muito profissional a tarefa de arredondar as coisas.
Filme independente que abastece com vigor esta saga clássica e fundamental do gênero, ''Terra dos Mortos'' cumpre o que promete em forma e fundo. Uma volta de um George Romero em grande forma, e mais vivo do que nunca aos 65 anos.