Chega a ser curioso que o melhor filme de todas as competições no 45º Festival de Cinema de Gramado, encerrado no sábado (26) à noite, tenha sido uma produção argentina que fugiu um pouco aos temas dominantes desta edição.
Gramado, em 2017, preparou uma agenda de homenagens e o trio de curadores (Rubens Ewald, Marcos Santuario e Iva Piwowarski) também teve a sensibilidade de organizar uma seleção encravada no contemporâneo. Questões de representatividade (mulheres, trans, afrodescendentes) dominaram os debates e até a premiação das competições brasileiras.
Como Nossos Pais, de Laís Bodanzky, venceu como melhor filme brasileiro. Foram seis Kikitos, incluindo filme, direção, ator e atriz (Paulo Vilhena e Maria Ribeiro), atriz coadjuvante (Clarisse Abujamra, o mais merecido de todos) e montagem. A diretora foi veemente em defesa das mulheres na indústria do audiovisual, onde representam apenas 15%. O júri estrangeiro contemplou dois longas da Argentina - Sinfonia para Ana, de Virna Molina e Ernesto Ardito, melhor filme, e Federico Godfrid, melhor diretor, por Pinamar. A questão do feminismo está presente em Ana e o filme retoma os anos de chumbo. Aborda a política, também presente no peruano La Ultima Tarde, de Joel Calero, que venceu melhor roteiro (do próprio diretor) e atriz (Katerina D’Onofrio).
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La Ultima Tarde tem um plano sequência acachapante - mais de 30 minutos de intenso diálogo. Foi o filme mais ousado, esteticamente, de todas as competições. O melhor foi Pinamar. A crônica de dois irmãos, e nem litigiosos como Caim e Abel. O que faz o mistério dos grandes filmes? Alguma coisa que tem de passar e imprimir na imagem.
Pinamar tem esse algo mais. Venceram a mostra de curtas A Gis, de Thiago Carvalhaes, melhor filme, sobre uma trans brasileira assassinada em Portugal, e Tailor, animação de Cali dos Anjos. Cali, que é trans, fez história ao vencer o Kikito de direção.
A crítica, foi rigorosa e destacou os melhores dos melhores: Pinamar, melhor longa latino; As Duas Irenes, de Fábio Meira, o melhor brasileiro; e O Quebra-Cabeças de Sara, de Allan Ribeiro, melhor curta.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.