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Finlandês 'The Other Side of Hope' passa a ser favorito em Berlim

14 fev 2017 às 17:59

Pode-se ter um termômetro da recepção aos filmes, aqui na Berlinale, pela participação de jornalistas nas coletivas. Quando são astros e estrelas de Hollywood, lotam sempre. Robert Pattinson, Sienna Miller e James Gray deveriam ter lotado a coletiva de The Lost City of Z, o mítico filme do diretor sobre a busca de uma cidade perdida na Amazônia pelo aventureiro Percy Fawcett. Inicialmente, era um projeto da B Plan de Brad Pitt, a ser interpretado pelo próprio. Quem terminou fazendo o papel foi Charlie Hunman, que, por sinal, é bom, em mais de um sentido.

A metade da sala já apontava para o desapontamento. Gray disse que não quis fazer o clássico filme de homem branco que vai à selva convencido de sua superioridade e que, pelo contrário, quis mostrar a colisão de dois mundos, o de Fawcett e a selva. A intenção é nobre, mas a selva demora a chegar e, quando isso ocorre, a representação do índio com certeza vai provocar polêmica no Brasil. O problema embutido em Lost City é que o filme é muito mais sobre a impossibilidade de se construir uma grande aventura, ou sobre as impossibilidade de James Gray, autor urbano, de filmar na selva - por sinal, a mesma região na divisa da Colômbia com Venezuela em que se passava O Abraço da Serpente - muito melhor do nosso (latino) ponto de vista.


Em compensação, a sala lotou na coletiva de Toivoin Tuolla Puolen. O novo filme do finlandês Aki Kaurismaki passa a ser, com o chileno Una Mujer Fantástica, de Sebastián Lelio - e talvez até mais -, o grande favorito, até agora, dessa Berlinale.

The Other Side of Hope, O Outro Lado da Esperança. Naquele seu estilo inconfundível, Aki conta as histórias de dois homens, que terminam por convergir e se confundir após uns 40 minutos. Um refugiado sírio e um vendedor que desiste da função e investe num restaurante parta explorar sua habilidade como jogador. O próprio Aki Kaurismaki parece um personagem saído de seus filmes. Diz que os faz para tentar mudar o mundo, mas depois, como Jean Renoir, em A Grande Ilusão, que lamentava não ter podido evitar a 2.ª Guerra, contenta-se em - talvez - mudar os três espectadores que forem ver O Outro Lado da Esperança. O filme tem a cara da Mostra. Renata de Almeida com certeza vai levá-lo para São Paulo. Tome nota desde já. É maravilhoso.


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