Manter a calçada limpa, acessível, segura e confortável é o ideal que toda cidade gostaria de ter. Para perceber que estamos longe desse cenário, basta andar a pé. Os problemas parecem ser a regra: pisos soltos, buracos, desníveis, raízes de árvores expostas, material de construção em cima do piso, carros estacionados em cima do passeio.
Uma das maneiras possíveis de reverter esse quadro é conscientizar as pessoas que estão reformando ou construindo, afirma o professor de arquitetura da Unifil Carlos Augusto da Silva. ''Melhorar as condições das calçadas é contribuir individualmente para o coletivo'', ressalta.
Em Londrina, o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano (Ippul), órgão ligado à Prefeitura, desenvolveu padrões, regras e aspectos técnicos de como executar calçadas cidadãs.
De acordo com Silva, o melhor caminho para quem quer refazer a calçada é contratar um profissional da área, que irá procurar o Ippul e seguir os padrões recomendáveis. A previsão de guia tátil, rampa de acesso e a definição de dimensões para a vegetação são algumas das normas.
As calçadas ecológicas também estão entre os modelos sugeridos pelo Ippul. Segundo o professor, a faixa ajardinada coberta por grama pode se somar tanto à faixa de serviços, onde são instalados orelhões, postes e vegetação, como à área próxima ao muro.
De acordo com o Ippul, a calçada ideal prevê pisos antiderrapantes, ausência de obstáculos como degraus entre os terrenos, dimensões mínimas de circulação e deslocamento para diferentes usuários, além de mobiliário urbano e vegetação dispostos de forma a não atrapalhar o pedestre. Para se ter uma ideia, a recomendação é construir calçadas com no mínimo 80 cm de largura para pessoas que utilizam a cadeira de rodas.
Ruas da cidade
A importância de privilegiar os pedestres nas cidades não é aleatória. Segundo números do Ippul, estima-se que em Londrina cerca de 650 mil viagens sejam realizadas diariamente, das quais aproximadamente 230 mil deslocamentos são realizados a pé.
Fazendo uma retrospectiva da história das cidades, Silva relembra que o domínio dos automóveis nas ruas não é um padrão, mas algo que marcou a história recente, mais precisamente o século 20. ''As cidades existem há 10 mil anos e as ruas sempre foram consideradas locais de transporte e encontro.''
Um exemplo de mudança de perspectiva no trânsito vem de Nova York, nos Estados Unidos, país onde as pessoas veneram carros. Segundo o professor, a cidade norte-americana está cada vez mais tirando o espaço dos automóveis para privilegiar seus pedestres.
Nas fotos, três modelos de calçadas ecológicas em Londrina. Projetadas com faixas ajardinadas, cobertas por grama, elas aumentam as áreas de absorção da chuva, sem prejudicar o pedestre. De acordo com o Ippul, são ideais para os bairros
Segundo a Norma Brasileira de Acessibilidade é recomendável utilizar faixas de piso tátil, com textura e cor diferenciadas, para facilitar a identificação do percurso por pessoas portadoras de deficiência visual. Na foto, faixa em calçada da Rua Piauí, centro da cidade de Londrina
Piso intertravado é montado por peças de concreto encontradas em diferentes espessuras. Os blocos devem seguir normas no que se refere à resistência à compressão e dimensões, e podem ser utilizados tanto em áreas externas quanto internas. Material tem alto coeficiente de permeabilidade, facilitando a infiltração da água no solo
Piso contínuo que vai da calçada ao recuo do estacionamento cria unidade visual e conforto estético, facilitando a aproximação das pessoas à vitrine
Dicas
- A calçada deve ser construída a partir do meio-fio de concreto pré-moldado instalado pela Prefeitura ou pelo loteador com 15 cm de altura
- Os passeios devem ter superfície regular, contínua, firme e antiderrapante em qualquer condição climática, executados sem mudanças abruptas de nível ou inclinações que dificultem a circulação dos pedestres. Observe os níveis dos vizinhos para que haja concordância
- As tampas das concessionárias (rede de água, esgoto e telefonia) devem ficar livres para visita e manutenção
- Nenhum degrau poderá ser feito na calçada. As rampas para acesso de veículos ou demais nivelamentos entre a calçada e a edificação deverão ser acomodadas na parte interna do terreno. É proibido por lei construir rampas para veículos na faixa da calçada
- Todas as calçadas devem apresentar inclinação de 2% no sentido transversal, em direção ao meio-fio e à sarjeta, para garantir o escoamento da chuva. Isso significa que a cada metro de calçada construída em direção à rua deve haver declividade de 2 cm
- Deverão ser executadas no meio-fio das esquinas rampas de acesso para pessoas com deficiência com 1,50 m de largura a partir do desenvolvimento da curva segundo a lei 7.483/98 do Plano Diretor de Londrina
- De acordo com o Código de Posturas do Município de Londrina, os proprietários são responsáveis pela execução e conservação das calçadas. No caso dos terrenos públicos, a responsabilidade é da Prefeitura. Moradores, comerciantes e industriais são responsáveis pela limpeza em frente de suas residências ou estabelecimentos
Fonte: Ippul