Preocupado com o risco de interrupção do crescimento do setor de construção civil, o governo prepara medidas para socorrer as construtoras que fizeram lançamentos no mercado imobiliário e, com a crise internacional, ficaram sem dinheiro em caixa e sem crédito para terminar os empreendimentos. O setor de construção civil estima que necessitará de um socorro da ordem de R$ 3 bilhões a R$ 4 bilhões. Esse montante será suficiente para que não haja uma queda brusca no número de empreendimentos em 2009, segundo explicou o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Paulo Safady Simão.
A Caixa Econômica Federal poderá dar garantias aos financiamentos concedidos por outras instituições financeiras às empresas. O banco estatal - líder no financiamento imobiliário - também vai lançar uma linha especial de crédito para as construtoras que tenham bons projetos.
As medidas em estudo visam a preservar o clima de confiança no setor da construção civil, que nos últimos anos teve forte expansão e agora está enfrentando a restrição de liquidez no Brasil e no mundo.
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Segundo o consultor de habitação da Caixa, Teotônio Rezende, o governo quer garantir a continuidade dos empreendimentos e evitar uma crise de confiança no mercado imobiliário. ''Estamos estudando a construção de um instrumento de garantia para dar segurança ao banco que financiar a empresa. Pode ser um seguro'', disse Rezende à Agência Estado.
De acordo com ele, o governo já tem a radiografia do problema e vai buscar uma forma de evitar a paralisação dos empreendimentos. ''A preocupação é justamente essa, é estratégico evitar uma crise de confiança que teria um efeito de contaminação muito grande'', disse.
O consultor da Caixa explicou que essas construtoras foram surpreendidas descapitalizadas no ''contrapé da crise''. Muitas delas, empresas de capital aberto, fizeram operações de oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês, como é conhecida), alavancaram um volume muito grande de recursos e aplicaram na compra de terrenos e no lançamento dos projetos. Com a crise, ficaram sem os recursos para viabilizar a construção do empreendimento.
O diagnóstico do governo é que boa parte dessas empresas acreditou que essa porta de entrada de dinheiro continuaria aberta e investiram tudo na compra de terrenos. Fizeram uma aposta arrojada no lançamento de empreendimentos imobiliários e, agora, com a volatilidade da Bolsa de Valores e queda do preço dos ativos, enfrentam uma situação financeira muito difícil, na avaliação dos técnicos.
''Esse é o grande imbróglio a ser resolvido: elas não têm os recursos para viabilizar a construção do empreendimento'', acrescentou o consultor, com a ressalva de que esse quadro não representa uma situação generalizada no sistema. Ele não descarta nem a proposta de que as empresas que se mantém capitalizadas e com acesso ao crédito possam comprar outras empreendedoras. Teotônio Rezende comentou, ainda, que, neste momento, não basta simplesmente ampliar a oferta de dinheiro. ''É preciso fazer algo diferente do convencional'', sugeriu. ''Uma coisa é ter dinheiro, outra é bancar o risco do mercado'', disse o consultor da Caixa.
Para ele, como as empresas podem estar fragilizadas financeiramente, os bancos poderão passar a exigir garantias adicionais para a concessão do empréstimo. Por isso, a necessidade de definir instrumentos que permitam a construção de um modelo de garantia.
''O que os Estados Unidos e a Inglaterra estão fazendo é colocar bilhões inimagináveis para socorrer o sistema. Estamos a anos luz do tamanho dos problemas deles, mas temos problemas aqui. Alguma coisa diferente do convencional tem que ser feito'', enfatizou.
A linha especial em estudo será aplicada no financiamento de ''bons projetos de empresas sérias'' que, eventualmente, por conta da mudança do cenário, ficaram sem liquidez. ''O que se está buscando é uma linha de crédito que permita que essas empresas continuem operando'', explicou ele.