Os choques lideram o ranking de acidentes de origem elétrica no Brasil, concentrando 59% das ocorrências, segundo levantamento feito pela Associação de Conscientização para os Perigos de Eletricidade (Abracopel) em 2018. Em seguida, aparecem os incêndios por sobrecarga (38%) e as descargas atmosféricas/raios, com 3%. A pesquisa utilizou informação eletrônica disponível nos meios de comunicação, ferramentas de buscas e a colaboração de engenheiros eletricistas e profissionais técnicos do setor elétrico como metodologia de coleta de dados.
De acordo com o Conselheiro do Crea-PR, Engenheiro Eletricista e Engenheiro de Segurança do Trabalho Nilton Costa, o choque elétrico é definido como a passagem da corrente elétrica pelo corpo humano. "Pode ser de forma direta, quando a pessoa pega um condutor energizado, como um fio descascado, ou indiretamente, quando toca em algo que está energizado, embora não deveria, como a porta de uma geladeira”, diz. Segundo ele, o choque elétrico pode ser fatal. "O que provoca a morte é a passagem da corrente elétrica pelo corpo. Existem alguns acidentes em que a pessoa vai a óbito dependendo de alguns fatores, tais como a passagem da corrente elétrica por órgãos vitais como o coração e o cérebro, as condições de saúde, o ambiente molhado, o corpo molhado, os pés descalços e assim por diante”, exemplifica o profissional.
Já a sobrecarga consiste em colocar uma carga maior do que o condutor ou a instalação são capazes de suportar. Isso pode acontecer na instalação de um chuveiro, por exemplo. "No inverno, as pessoas procuram comprar um aparelho mais potente para esquentar a água, mas esquecem de verificar se o equipamento é adequado para o sistema. Isso pode provocar o aquecimento do fio e o derretimento da capa protetora, culminando no curto-circuito”, explica o Engenheiro Eletricista. Para evitar esse erro, o morador deve comprar um chuveiro que necessite de uma corrente menor que a corrente de capacidade do disjuntor do chuveiro, conforme descrito no manual de fabricação.
O Brasil fechou o ano de 2018 com estatísticas alarmantes. Segundo a Abracopel, foram registrados 537 casos de incêndio causados por curto-circuito, totalizando 61 mortes, um crescimento de mais de 20% em relação a 2017. A maioria dos acidentes foi provocada por instalações elétricas mal planejadas.
"O levantamento aponta que um dos maiores problemas do País é que a maioria das casas não tem um projeto elétrico feito por um profissional habilitado. Outro problema é a falta de manutenção ou manutenção inadequada. Culturalmente, o brasileiro se preocupa mais com o que é visto, ou seja, ele pinta a casa, cuida da parte externa, mas se esquece que dentro de um imóvel existe um sistema de instalação elétrica que precisa ser cuidado”, alerta Costa. "A recomendação é que sejam feitam revisões periódicas e manutenção a cada 20 anos, se o material for de boa qualidade. Porém, isso pode variar de acordo com o estado de conservação do imóvel”.
A distribuição de energia é uma atividade complexa e cercada de riscos. Desde a década de 1910, o Brasil toma medidas para regular a matéria. A mais recente normatização é dada pela ABNT NBR5410. O texto traz uma série de exigências técnicas e sofisticadas que atendem padrões internacionais. Todo profissional habilitado para a atividade, seja Engenheiro Eletricista ou técnico da área, deve se atentar a esses requisitos.
"Ao executar um trabalho, o Engenheiro Eletricista precisa emitir uma Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) para legalizar aquela atividade perante o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná (Crea-PR)”, detalha o Conselheiro da autarquia. "A ART garante a responsabilidade do profissional em caso de irregularidades. Além disso, é possível consultar no site do Crea se o profissional está com o registro em dia”, completa.
Executar esse tipo de serviço por iniciativa própria ou por meio da contratação de pessoas leigas ou profissionais incapacitados traz sérios riscos. "Muitas pessoas vão por um caminho mais barato, o que acaba saindo caro lá na frente. Lembre-se que a sua segurança e da sua família não tem preço”, finaliza o Conselheiro do Crea-PR.