Sabemos que água é um recurso natural limitado do planeta e que a energia, antes de chegar à nossa casa, precisou ser produzida, custou dinheiro e mexeu com o ecossistema. Então, como construir novas casas para a população em crescimento sem gerar grande impacto ambiental? Como gastar menos e evitar o desperdício?
Para tentar solucionar esse problema, cientistas desenvolvem projetos de moradias ecologicamente corretas, com ações como reaproveitamento de água da chuva, reciclagem de lixo, iluminação natural, materiais econômicos e renováveis.
Uma dessas iniciativas é a Casa Eficiente construída pela Fiocruz em sua sede, no Rio de Janeiro, com a proposta de sensibilizar os trabalhadores e visitantes sobre a importância da eficiência energética. Nela são transmitidos conhecimentos básicos sobre iluminação, por meio de um painel de lâmpadas. A casa dispõe ainda de um sistema de reaproveitamento da água de chuva, torneiras econômicas com sensor de movimento e um aquecedor solar de garrafas plásticas (PET).
"Nosso principal objetivo é buscar a eficiência energética", diz o engenheiro Paulo Villar, um dos idealizadores do projeto. Ele explica que planejar os espaços e a compra de materiais para iluminação de acordo com o uso é o melhor caminho para reduzir a conta de luz, tanto nas empresas e instituições como nas residências.
Casa-laboratório
Em Florianópolis, outra iniciativa ataca o desperdício de energia: uma casa-laboratório, construída com tijolos produzidos na região, materiais reaproveitados e madeira de reflorestamento. As paredes e os forros usam um revestimento especial em camadas para manter a temperatura agradável.
A disposição dos cômodos, a posição de janelas e portas, os vidros e esquadrias, tudo foi estudado de acordo com o clima e os ventos do lugar, para evitar que fique muito fria ou muito quente. Assim, no lugar de ar condicionado, basta um equipamento que puxa o ar externo durante a noite, lançando-o no interior dos quartos.
A água quentinha, aquecida pelo sol, cai não só no chuveiro, mas também passa por canos do sistema de aquecimento dos quartos. Um telhado verde, como um jardim suspenso, também serve para evitar que a cobertura da casa esquente demais. Esses recursos permitem a redução do consumo de energia de até 64% em uma casa do mesmo tamanho.
O sistema hidráulico da construção foi desenvolvido com o aproveitamento de água da chuva, da água usada na lavagem de roupa, na área de serviço e no chuveiro. A chamada "água cinza" passa por um tipo de limpeza feito com raízes de plantas e é reutilizada, por exemplo, para molhar as plantas do jardim.
Visitas de estudantes
Do lado de fora, espécies nativas da região compõem o paisagismo, pensado para proteger também a casa de ventos fortes. Com tantos itens incomuns, a construção funciona, desde 2006, como um laboratório de novas tecnologias e vêm recebendo visitantes, entre eles estudantes de engenharia ambiental, geografia, arquitetura, design de interiores, entre outros.
"Ela funciona como uma vitrine de conceitos", explica Roberto Lamberts, um dos idealizadores do projeto de Florianópolis, responsável pelo laboratório de Eficiência Energética em Edificações da Universidade Federal de Santa Catarina (LabEEE / UFSC), que construiu a casa em parceria com a Eletrosul e a Eletrobras. No futuro, segundo o engenheiro, deverá ser incorporada a tecnologia de célula combustível, para geração de energia a partir do hidrogênio.
Durante os meses de aulas, a casa eficiente de Florianópolis recebe estudantes de nível médio e fundamental. Com eles, são trabalhados conceitos de sustentabilidade, saneamento, biologia e geografia. "Ensinamos bastante às crianças sobre consumo consciente, e como não desperdiçar energia", conta a promotora Priscila Gomes dos Santos, que atende os grupos.
Ela diz que a maior curiosidade, de pessoas de todas as idades, é sobre custos. "Quanto dinheiro é preciso para se construir uma casa assim?" Priscila responde que por ser um ambiente experimental, os custos não devem ser comparados à construção de uma residência. "Já dá para dizer que vale a pena investir no uso da energia solar para aquecimento de água, porque, usando coletores solares existentes atualmente no mercado, o retorno vem em três anos, e estes sistemas duram cerca de 30 anos", exemplifica.