Em um mundo com um séquito de adultos céticos, ou negacionistas, em relação à ciência, ainda é possível aferir que ela mantém seu encanto, principalmente entre crianças e adolescentes. Um indício disso vem dos mais de 300 seguidores de Iberê Thenório, principal apresentador do canal Manual do Mundo, no Youtube, que lotaram o saguão da Livraria Curitiba e parte do corredor do Shopping Catuaí, onde está instalada em Londrina, na tarde de sábado (12).
Thenório veio autografar os dois últimos lançamentos do canal em parceria com a Editora Sextante, “O Grande Livro de Biologia do Manual do Mundo” e “Os Mistérios do Universo”. Ele e sua equipe têm 23 publicações pela casa, a maioria, versões de obras que são do exterior, como estes lançamentos.
”A gente traz para o Brasil e adapta para o português. Tem várias coisas que aqui se aprende [com uma didática] diferente, ou algo que consideramos não estar claro no livro original, nós mudamos para poder se entender melhor”, explica.
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O “Grande Livro de Biologia” é o quinto de uma série que já tem os assuntos Ciências, História, Química e Matemática. Embora voltado para estudantes, o conteúdo não é dividido por série escolar, explica Thenório. “Então, quem comprar com 8 anos, provavelmente vai usar esse livro até os 17, porque tem conteúdo desde o comecinho até o final [do Ensino Básico], de um jeito muito bem ilustrado, muito divertido.”
Já “Os Mistérios do Universo” é para quem quer começar na astronomia. “Ele traz as primeiras coisas que a pessoa tem que conhecer, como as luas de outros planetas, o que é uma galáxia, como funciona uma nebulosa, qual a diferença entre os astros celestes. É um livro muito bonito, muito bem ilustrado que, além de ser legal de ler, também serve como livro de mesa de centro”, afirma.
Evento concorrido
A tarde de autógrafos estava prevista para começar às 15h, mas, às 14h30, as 300 senhas já haviam se esgotado e os fãs e seus pais pediam para iniciar o evento, no mezanino – que começou na hora marcada.
Acompanhado dos pais, Lucas Valente, 11, foi o primeiro a ter seu livro sobre astronomia autografado pelo autor. Ele conheceu o Manual do Mundo por meio de um canal de televisão. “A minha tevê tem o LG Channels (serviço gratuito pela internet oferecido pela marca) e, lá, tem um canal do Iberê”, conta.
Aspirante a engenheiro civil, o pré-adolescente gosta dos vídeos em que Thenório monta equipamentos inusitados e se recorda bem de um microscópio de bolso utilizando uma caneta laser, uma borracha e um cotonete. “Daí, ele pegou água do Rio Tietê, que é muito contaminado, colocou uma gota em um cotonete e deu para ver os micro-organismos [projetados na parede]. Eu fiquei com nojo de ver aquelas coisas se mexendo”, diz.
Os irmãos Vítor e César Cinagava, de 8 e 11 anos, respectivamente, também levaram seus livros para receber o autógrafo do influenciador digital. “Nós o conhecemos dos vídeos e dos livros”, diz César. “E a gente até já usou vídeos para fazer tarefa da escola”, completa Vítor.
Para o mais velho, as publicações que mais chamam a atenção são as que Thenório leva para uma "outra versão" de si mesmo no meio de uma tarefa e ensina o modo mais fácil, ou o correto, de executá-la. "Ele diz: ‘Parou, parou, parou. O que você está fazendo?’", diverte-se o mais velho.
Para Vítor, vídeo marcante marcante foi o que o influenciador ensinou como apagar tinta de canetas marca-texto utilizando limão ou, quando não funciona, empregando água sanitária.
E já fizeram em casa algum dos experimentos dele? “Já. E já fizemos experiência em casa antes dele fazer o vídeo ensinando”, conta César, que, no futuro, quer ser cientista – proposta diferente da do irmão, que sonha em ser jogador de basquete.
Mas, para jogar basquete, precisa entender de ciência? “Claro, tem muito da física ali, não é?” pergunta a mãe, Adriana Ito Cinagava, para o filho mais novo, que sorri.
Amor por divulgar a ciência
O interesse pelas ciências sempre existiu em Iberê Thenório, mas, começou a se tornar uma missão quando trabalhou escrevendo reportagens sobre o tema para um portal de notícias de alcance nacional.
“Isso me fez gostar não só da ciência, mas de falar sobre a ciência, que são coisas diferentes. Você tem que fazer pesquisa pra poder falar bem sobre algum assunto, tentar simplificar as coisas para comunicar do melhor jeito possível. E foi assim que me apaixonei por comunicar a ciência, que é diferente de gostar de ciência por si”, afirma.
Foi com essa paixão que ele e sua mulher, Mari Fulfaro, decidiram fundar o canal Manual do Mundo e, a partir dele, perceberam que não apenas o tema é interessante, mas, também, muito necessário. “As pessoas precisavam que alguns assuntos fossem tratados de um jeito mais simples.”
No início, não esperavam o sucesso que obtiveram. Thenório recorda que as primeiras experiências eram filmadas apenas com as mãos dos influenciadores, porque ele tinha vergonha de aparecer no vídeo. De lá para cá, o canal se tornou um dos principais no Youtube e ele recebeu vários prêmios por sua presença na internet e pelo respeito que seu trabalho tem.
O canal tem uma equipe com mais de quinze pessoas, que pensam, o tempo todo, em quais assuntos merecem ser pautados. Entretanto, os próprios seguidores do canal fazem perguntas e sugestões que auxiliam nas pautas – a versão em português do “Manual do Mundo” tem 19,4 milhões de inscritos e mais de 4,7 bilhões de visualizações, mas, também há outros, mais recentes, com dublagens em inglês e espanhol.
E, num mundo em que pessoas questionam grandes avanços da ciência, como a eficácia da vacina para controlar e evitar doenças ou a esfericidade do planeta Terra (já conhecida desde a Grécia antiga, diga-se de passagem), torna-se ainda mais importante o trabalho. “No começo do canal, isso não existia muito. Era mais um boato aqui, uma ‘fake news’ ali, mas, depois, esses grupos começaram a se juntar, começou a virar sistemático,”, recorda Thenório.
“Se eu falo, por exemplo, sobre a história do homem na Lua, já aparecem os negacionistas do espaço, [comentando] que o homem não chegou na Lua. Quando eu falo de energia, tem muita gente que acredita em motores infinitos, que tem algum tipo de energia que foi descoberta e que as grandes corporações encobrem”, exemplifica.
Ao mesmo tempo, Thenório vê um público que está bem formado sobre o que já foi descoberto e inventado pela humanidade e comentários negacionistas acabam engolidos pelos de outros internautas. “Então, é muito legal lutar essa batalha. Pelo menos dentro do público que nos assiste, tem menos negacionistas”, comemora.
Ele acredita que essas ideias distorcidas têm origem na necessidade que alguns têm de possuir um conhecimento exclusivo, o que os leva a acreditar em teorias da conspiração. “É esse prazer de saber alguma coisa que ninguém sabe, quando, na verdade, a escola já está ensinando o que é certo, mas a pessoa quer desacreditar”, diz o influenciador.