Nem um presidente da República menos hostil na maior parte do tempo nem a perspectiva de entrada de um ministro terrivelmente evangélico foram capazes de afetar a imagem do STF (Supremo Tribunal Federal) perante a população. Para o bem ou para o mal.
A avaliação da mais alta instância do Judiciário brasileiro continua desfavorável aos ministros, que recentemente ganharam a companhia do pastor André Mendonça, primeiro evangélico em mais de seis décadas a desembarcar no colegiado.
Apenas 23% dos brasileiros veem como ótimo ou bom o trabalho do STF, enquanto 37% o consideram regular, e 34%, ruim ou péssimo. Em setembro, os índices eram de 25%, 35% e 35%, respectivamente. Ou seja, houve apenas variações dentro da margem de erro, que é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.
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Os dados foram coletados por pesquisa presencial do Datafolha com 3.666 pessoas de 16 anos ou mais, em 191 cidades, entre 13 e 16 de dezembro.
A atual série do Datafolha mostra que desde julho de 2021 a má imagem do tribunal se estabilizou, sem que eventuais ataques presidenciais ao STF, e também os recuos, tenham a afetado.
A impressão negativa é maior com o eleitorado que pretende votar em Jair Bolsonaro (PL) no ano que vem. Se considerarmos apenas esse grupo, só um em cada dez entrevistados (12%) aprova o trabalho do Supremo, ante 57% que o rejeitam.
Com os eleitores declarados de Lula (PT), a repulsa à corte cai para 24%, dez pontos percentuais abaixo da média geral. Em compensação, 30% gostam da atuação do colegiado.
O levantamento foi realizado quando Mendonça já havia sido sabatinado e aprovado por senadores, cinco meses após ser escolhido pelo presidente Jair Bolsonaro. O novo integrante tomou posse na corte no dia 16 de dezembro, último dia da pesquisa de campo.
Se não houve tempo para Mendonça mostrar serviço, sua mera chegada ocorre num cenário sem discrepâncias significativas entre a percepção do segmento evangélico (que representa 25% da amostra da pesquisa) e a do outro bloco religioso majoritário no país, o católico (49% do total). Entre o primeiro filão religioso, 35% desaprovam o tribunal. Já no segundo, 32%.
Dias antes, Bolsonaro voltou à carga contra o STF após se sentir mais uma vez encurralado pela corte. O ataque se seguiu à ordem de Alexandre de Moraes para apurar a falsa associação feita pelo presidente entre a vacina da Covid-19 e o HIV.
Numa live em outubro, Bolsonaro leu uma suposta notícia dizendo que "vacinados estão desenvolvendo a síndrome da imunodeficiência adquirida [Aids]". Dias depois, Facebook e Instagram derrubaram o vídeo. Era fake news.
A irritação presidencial cresceu com a decisão de outro ministro constantemente em sua mira, Luís Roberto Barroso, de determinar a adoção de um passaporte para imunizados cruzarem as fronteiras do país, com amparo da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
Bolsonaro estava longe de manter um clima camarada com o Supremo, mas o cessar-fogo transcorria sem grandes abalos desde as ameaças de matriz golpista do 7 de Setembro. Com ajuda de Michel Temer (MDB), ele lançou na ocasião uma nota atribuindo palavras "contundentes" anteriores ao "calor do momento".
Por um trimestre, diminuiu decibéis golpistas contra o STF. Em dezembro, voltou a atiçar a base bolsonarista com novos embates com os magistrados, embora ainda distante dos ataques que antecederam o feriado da Independência.
O STF já esteve em mais alta conta na população. Em maio de 2020, 30% dos brasileiros o viam com bons olhos, patamar superior aos 26% que desabonavam seu desempenho.
Um mês antes, os ministros haviam determinado que governos estaduais e municipais tinham autonomia para determinar regras de isolamento social numa pandemia ainda nova para o mundo. Sob tutela bolsonarista, o governo federal resistia a tanto. Prevaleceu o entendimento do Supremo.