O vídeo “Nós contra eles”, que defende a taxação do grupo definido como BBB (bilionários, bancos e bets), marcou uma virada na comunicação do terceiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Se antes a direita tinha amplo domínio das redes sociais e conseguia impor suas versões com relativa facilidade, o vídeo feito com o uso de Inteligência Artificial e divulgado PT atingiu um grande público e parece ter equilibrado a guerra de memes que vem antecipando a campanha eleitoral.
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A peça foi divulgada depois que a Câmara dos Deputados derrubou o decreto de Lula que aumentava as alíquotas do Imposto sobre IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). As avaliações negativas do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), e do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), dispararam, segundo pesquisa AtlasIntel/Bloomberg feita no fim de junho, para 75% e 74%, respectivamente.
A avaliação de especialistas ouvidas pela FOLHA é que a comunicação do governo melhorou e que um elemento que deve entrar com força no debate é a taxação a produtos brasileiros, anunciada na quarta-feira (9) pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Ao vincular o aumento da alíquota a uma suposta “perseguição” ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Trump deixou o setor bolsonarista da direita em uma situação difícil, já que a taxação vai atingir setores como a indústria do aço e o agronegócio brasileiro.
“A comunicação do governo federal parece ter demorado para acordar para a língua das redes sociais digitais, âmbito que a extrema direita tem dominado”, avalia a doutora em Ciência Política, mestre em Comunicação e professora da UEM Fernanda Cavassana.
“Vários estudos da área da comunicação política mostram que, desde as eleições estadunidenses de 2016, o uso de dados, da comunicação personalizada por algoritmos nas redes sociais, tem sido explorada por candidatos da direita. As fake news se tornaram uma estratégia de campanha, de ação política. E isso está relacionado à forma, à roupagem do conteúdo que chega às pessoas nessas redes.”
Para a pesquisadora, um fator positivo para o governo é a campanha ter atingido um grande público em um ano pré-eleitoral. “Parece ter sido bem acionada no ano ímpar pré-eleição, para que force no último semestre uma postura do Congresso, mesmo que reativa, a favor do governo e de algumas promessas de campanha”, diz Cavassana. “Assim como o Legislativo jogou sufocando Lula mirando 2026, a campanha comunicacional de taxação de grandes fortunas aparece como uma aposta do governo para garantir enredo para a campanha de reeleição, que oficialmente começaria daqui a 12 meses.”
CAMPANHA PERMANENTE
Doutora em Ciência Política pela UFPR e professora da Universidade Federal do Pampa, Daniela Drummond avalia que as campanhas de hoje são permanentes. “Não existe mais só o período pré-eleitoral, a campanha hoje é permanente, o tempo todos os candidatos estão pensando em ganhar visibilidade e likes, viralizar e conseguir disseminar seus pontos de vista”, diz a cientista política.
Nesse ambiente, o governo conseguiu se colocar no jogo com a campanha de taxação dos mais riscos, mas o desafio será furar a bolha. “Essa questão da taxação dos mais ricos está circulando muito na rede e tem atingido mais o público, mas vale lembrar que as redes sociais têm uma bolha. Até nós, como pesquisadores, temos dificuldades para enxergar esse todo”, diz Daniela Drummond.
Um fator de desequilíbrio poderá ser a ausência de regulamentação das redes sociais, que é combatida pela oposição ao governo. O PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, tem realizado encontros para alinhar sua forma de atuação nas redes até 2026. Em junho, um evento do PL reuniu representantes de big techs Google e Meta (Facebook, Instagram e WhatsApp) em Fortaleza. Nesta semana, a CCIA, entidade que reúne big techs norte-americanas, saudou a taxação de 50% aos produtos brasileiros nos Estados Unidos e a investigação do Brasil por “práticas comerciais desleais”.
O posicionamento das big techs pode influenciar na eleição de 2026, já que as plataformas tendem a “entregar” conteúdos mais alinhados à sua opção política. “Com a não regulamentação das redes sociais, tem muitas coisas que a gente não sabe como acontecem nos bastidores, o que a gente percebe é que a própria rede boicota alguns temas”, afirma Drummond. “Outra questão é a das notícias falsas ou enviesadas, que as redes às vezes continuam propagando. Isso continua sendo uma preocupação.”
Leia a reportagem completa na Folha de Londrina: