Em resposta ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que nesta quarta-feira (10) criticou a atuação do governo federal na pandemia da Covid-19, o presidente Jair Bolsonaro disse que o petista "agora inicia uma campanha" política e que ele "não tem nada para mostrar de bom".
"Não justifica essa crítica do ex-presidente Lula, que agora inicia uma campanha. Como não tem nada para mostrar de bom, essa é uma regra no PT, a campanha deles é baseada em criticar, mentir e desinformar", afirmou Bolsonaro.
A postura do presidente contrariou a recomendação de seus assessores, para quem ele deveria ignorar as declarações do petista e focar a defesa da vacinação contra a Covid.
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Em sua primeira manifestação após ter tido seus direitos políticos reabilitados, Lula classificou de "desgoverno" a resposta de Bolsonaro na crise sanitária.
"Demos todos os meios para prefeitos e governadores, até na questão do oxigênio em Manaus. Nas primeiras 48 horas estavam chegando os primeiro cilindros na região, isso graças ao trabalho da Força Aérea e a ligação direta que o ministro [Eduardo] Pazuello [da Saúde] tem com o ministro da Defesa [Fernando Azevedo]", respondeu Bolsonaro.
"Falar de desgoverno, ele [Lula] tá fazendo acusação sem qualquer fundamento", complementou.
Bolsonaro disse ainda que o governo de Lula era baseado em corrupção e citou como exemplo a delação premiada do ex-ministro Antonio Palocci. As declarações foram transmitidas pela CNN Brasil.
"O que foi devolvido por delatores, mais de R$ 2 bilhões, comprova que era um governo voltado para corrupção", disse Bolsonaro.
Com a inesperada recolocação de Lula no tabuleiro da eleição de 2022, Bolsonaro havia sido aconselhado por auxiliares a tentar ignorar o rival.
A avaliação do entorno presidencial é que, devido ao recrudescimento da pandemia, o governo precisa abraçar o "Plano Vacina" e tentar se descolar do rótulo de negacionista -imagem conquistada por Bolsonaro após diversas declarações questionando imunizantes e o isolamento social e defendendo tratamentos ineficazes para a doença.
"Plano Vacina" é como aliados de Bolsonaro apelidaram uma ofensiva deflagrada para tentar estancar a perda de popularidade do mandatário diante do aumento de mortes por Covid-19 e pela lenta evolução na imunização no país.
No entanto, na entrevista improvisada em frente ao Palácio da Alvorada, Bolsonaro ignorou os conselhos e respondeu a todas as perguntas sobre Lula.
O mandatário reeditou a fórmula adotada no dia em que o ministro Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal), decidiu anular as sentenças contra Lula: o de ressaltar os escândalos de corrupção que marcaram os governos do PT.
Ele criticou ainda as medidas de distanciamento social, como o fechamento de comércios, e disse que elas têm "adesão total por parte de governadores ligados a Lula e ao PT".
"Isso leva o cidadão a uma situação de miserabilidade", afirmou.
"Ele [Lula] não sabe o que fala, não tem argumentos e, no meu entender, vai ficar ai tagarelando não sei quanto tempo".
Bolsonaro também disse que o governo Lula foi "estatizante" e que suas declarações desta quarta foram "plena campanha política".
"A parte que eu vi é plena campanha politica. Para ele [Lula] tudo é fácil, tudo pode ser resolvido. Em nenhum momento ele falou que os seus governadores de esquerda destruíram milhões de empregos em seus estados, obrigando o povo a ficar em casa", disse.
Por último, Bolsonaro disse acreditar que Lula está "comemorando cedo" a decisão judicial de Fachin, uma vez que ela precisará ainda ser analisada pelo plenário do STF.
No Congresso Nacional, a fala de Lula foi vista por alguns como uma sinalização de que ele pretende não apenas criar uma frente de esquerda contra Bolsonaro mas também avançar na base de apoio do atual governo. Muitos lembram a eleição de 2002, quando Lula assumiu compromissos com setores conservadores para conseguir ser eleito presidente.
Em reservado, um líder de uma grande bancada do Senado afirmou que o efeito Lula e sua disposição de negociar com diferentes partidos pode resultar em mais concessões do atual governo, seja com cargos ou com recursos. No discurso, continuarão leais ao governo, mas saberão tirar proveito da situação.
O senador Otto Alencar (PSD-BA), presidente da importante CAE (Comissão de Assuntos Econômicos), afirma que o ex-presidente Lula sinalizou que vai buscar uma união nacional, com partidos de esquerda, centro e direita, embora não tenha se apresentado como candidato.
Na Câmara, deputados, inclusive do centro ou de centro-direita , elogiaram o discurso do petista. Ex-presidente da Casa, o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) ressaltou a diferença entre Lula e Bolsonaro.
"Um tem visão de país; o outro só enxerga o próprio umbigo. Um defende a vacina, a ciência e o SUS; o outro defende a cloroquina e um tal de spray israelense", escreveu, em uma rede social.
"Um defende uma política externa independente; outro defende a subserviência. Um defende política ambiental; outro a política da destruição. Um respeita e defende a democracia; o outro não sabe o que isso significa."
O deputado Ivan Valente (PSOL-SP) afirmou que o discurso de Lula "atesta que a história é de fato implacável, mentiras não se sustentam, apesar dos estragos que fazem".
"A farsa jurídica que condenou Lula foi a mesma que elegeu Bolsonaro. O esquema do Moro está sendo desmontado, logo será a vez do facínora", criticou.
Alguns adversários, por outro lado, se mostram irredutíveis e pouco abertos ao diálogo com o ex-presidente. O líder do PSDB no Senado, Izalci Lucas (PSDB-DF), afirma não ter dúvida e lembra que a decisão do STF não analisou o mérito da condenação e apenas qual seria o local de julgamento adequado.
Izalci afirma que, caso a situação de seus direitos não seja resolvida nos tribunais, considera "importante a derrota dele nas urnas".
"No mérito, ele continua respondendo e espero que isso seja resolvido antes das eleições , mas, não resolvendo, não tenho dúvidas que os eleitores lembrarão. Acho importante a derrota dele nas urnas."