O acusado da morte de Maria Flávia de Castro, em 2003, em Londrina, quando a vítima tinha 25 anos, foi julgado inocente na tarde desta quinta-feira (3). Ele foi o único suspeito apontado e conviveu com a acusação por 21 anos. Para Néias – Observatório de Feminicídios de Londrina, os autos trazem indícios de falhas durante as investigações iniciais, descartando a participação de outra pessoa, ou mais de uma, no crime.
O assassinato de Maria Flávia foi tipificado como homicídio por ter ocorrido antes da promulgação da Lei do Feminicídio (Lei 13.104/2015), mas possui todas as características da qualificadora, explica o Observatório. Seu corpo foi encontrado sem roupas no Jardim Versailhes 1, zona oeste de Londrina, no dia 1º de maio de 2003. Laudo pericial indicou estrangulamento como causa da morte.
As mesmas características, incluindo o local de desova do corpo e a situação de prostituição, marcaram a morte de Elaine Cristina Ferreira, de 27 anos, segundo publicou a Folha de Londrina à época. O crime ocorreu em fevereiro daquele ano.
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Outro suspeito - ou mais de um
Para Néias, as evidências apontam para uma possível falha nas investigações iniciais, sugerindo que outro - ou outros - possam estar envolvidos na morte de Maria Flávia, remetendo à possibilidade de um assassino em série.
“Em relação ao feminicídio de Elaine, sequer houve denúncia e o caso foi arquivado. Causa espanto, quando nos aprofundamos nos autos do caso de Maria Flávia, que tenha havido solicitação para apensamento da investigação da morte de Eliane ao caso, dadas as semelhanças, e que isso nunca tenha ocorrido. Também salta aos olhos o fato de a companheira de residência de Maria Flávia jamais ter sido ouvida em depoimento, quanto a ausência de provas periciais que teriam apontado indícios materiais do assassino”, destaca a nota pública de Néias sobre o julgamento.
Irmão de réu acreditava na inocência
Néias relata que, ao final do julgamento desta quinta, o irmão da vítima abraçou o réu, de quem acreditava na inocência. Para o Observatório, a fragilidade das provas diante da ausência de diligências que pudessem esclarecer a possibilidade de atuação de um assassino em série impediram a solução do caso.
Rumores de que as vítimas haviam entrado em “um carrão” - enquanto o réu tinha um moto - antes de serem encontradas mortas, ou ainda a possibilidade de participação de outros dois indivíduos, parecem ter sido ignorados.
“A absolvição do réu demonstra que, devido a falhas nas investigações iniciais, um inocente conviveu por mais de duas décadas com a acusação de um crime que não cometeu, enquanto o verdadeiro assassino pode ainda estar em liberdade, tendo feito novas vítimas ao longo dos anos”, revela a nota. O homem absolvido ontem foi apontado como o principal suspeito com base em depoimento de uma única testemunha. A defesa argumentou que a acusação se baseava em suposições e que outros suspeitos poderiam estar envolvidos no crime. Os jurados concordaram.
Para Néias e para a família de Maria Flávia sobram dúvidas e ausência de respostas. “Reforçamos a importância de investigações rigorosas e detalhadas em casos de feminicídio, para evitar que erros comprometam a justiça e deixem de proteger a sociedade de indivíduos perigosos que podem continuar atuando impunemente”, pede o coletivo.
“Vinte e um anos depois, nada sabemos de concreto sobre o feminicídio dessas duas mulheres, invisibilizadas durante a vida e após a morte. Não se fez justiça. O feminicídio de Maria Flavia, 21 anos depois, continua impune”, finaliza Néias.