A mãe e o irmão de Wender Natan da Costa, 20, que morreu durante uma operação policial no dia 15 de fevereiro, no jardim Santiago, Zona Oeste de Londrina, foram encaminhados à Central de Flagrantes na noite desta terça-feira (18) pela equipe do 30° BPM (Batalhão de Polícia Militar). Vanessa da Costa ficou detida até as 2h desta quarta-feira (19), quando foi liberada após pagar fiança.
De acordo com informações do BO (Boletim de Ocorrência) fornecido pela PM, os agentes foram acionados para atender uma ocorrência no colégio Estadual Polivalente, no jardim Santa Rita, envolvendo uma briga entre alunos. Durante o atendimento, algumas pessoas teriam desacatado os policiais e bloqueado a entrada dos alunos no estabelecimento de ensino, o que motivou o encaminhamento de três pessoas para a Central de Flagrantes por desacato, perturbação do trabalho, risco à segurança escolar e outros crimes.
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Entre essas pessoas estão Vanessa, mãe de Wender, e Wesley da Costa, irmão do jovem. Uma outra mulher, identificada como Thaís Azevedo, também foi presa. Segundo a advogada que representa as famílias dos jovens mortos, Iassodara Ribeiro, um dos estudantes envolvidos na briga é sobrinho de Vanessa. “Chegou a informação para a família de que os policiais estavam agredindo a criança”, relatou.
Nesse momento, os familiares teriam ido até a escola para verificar a situação. A advogada detalhou que os “ânimos se exaltaram”, o que fez com que Vanessa abrisse uma transmissão ao vivo no Instagram. “Isso não foi bem visto pela equipe policial”, explicou, complementando que os agentes pediram para ela interromper a gravação, o que ela negou.
'Truculência'
Na tarde desta quarta-feira (19), o Portal Bonde conversou com a mãe de Wender via telefone, que deu a sua versão sobre o ocorrido. Ela relatou que recebeu uma ligação da sua cunhada sobre uma ação da PM no colégio em que o sobrinho dela estuda. Com medo, direcionou-se à instituição para presenciar a abordagem.
"Eu recebi uma ligação falando que o meu sobrinho tinha apanhado da PM e estava no colégio. Lá, os policiais, quando nos viram, mudaram totalmente a feição. Não sei se é porque nos reconheceram como mães [dos jovens mortos em fevereiro]. Aí começaram a ficar nervosos e a colocar palavras nas nossas bocas, nos oprimir", disse.
Thaís Azevedo, também detida na abordagem, é amiga das famílias dos jovens mortos e estava presente no local pelo mesmo motivo. De acordo com Vanessa, o filho de Thaís, de apenas 9 anos, foi agredido pelos agentes e, após ser encaminhado ao Conselho Tutelar nesta quarta, deve passar por exame pericial para atestar as lesões. O menino estava próximo ao colégio para se inscrever em um teste de futebol, que aconteceria num campo da região.
Já o filho de Vanessa, Wesley da Costa, citado no BO, foi ao colégio com a mãe com o objetivo de acompanhar a abordagem policial junto dela. "Meu filho foi junto e filmou. A revolta deles foi porque estávamos filmando. No momento que falamos que éramos do Nossa Senhora da Paz, eles se transformaram", relembrou.
Thaís e Vanessa foram acusadas de desacato e ameaça, por isso foram encaminhadas à Central de Flagrantes e ficaram detidas por algumas horas até pagarem fiança de R$ 1 mil cada. Wesley assinou termo circunstanciado por desacato e não foi detido. O celular de Vanessa ficou sob a posse da Central de Flagrantes, segundo ela, "por causa dos vídeos que eles precisam conferir".
O dinheiro usado para pagar a fiança foi emprestado por amigos, mas será retirado do montante arrecadado no sábado (15), em evento organizado na Bratac para custear uma perícia particular. "A gente teve que tirar [dinheiro] da feijoada para pagar essa fiança. Tivemos que emprestar dinheiro, porque não tínhamos em espécie. [No evento], a maioria pagou por Pix."
A confusão desta terça revoltou ainda mais a mãe de Wender, que, enquanto cobra por justiça, reúne forças para dar sequência à batalha judicial que trava contra a PM. "É revoltante. Sabe quando você quer dar um grito de socorro e ninguém está ouvindo? Eu estou cansada de tudo isso, porque não tenho descanso, nem paz para o luto, nada!".
Sobre os protestos, ela enfatizou que não pretende fazer novos atos porque está com medo. "Eu fui só ao colégio ver uma briga, para saber o que estava acontecendo, e já jogaram spray de pimenta no nosso rosto e lançaram o meu filho igual a um porco dentro da viatura. Se a gente fizer qualquer coisa agora, é perigoso nos matarem."
A reportagem entrou em contato com a Polícia Militar, que disse que o caso seria tratado pela Sesp (Secretaria de Segurança Pública). Em nota, a pasta respondeu dizendo que as duas mulheres foram presas flagrante por desacato e ameaça e foram liberadas após o pagamento de fiança.