O Observatório de Feminicídios de Londrina - Néias acompanhou, nesta terça-feira (15), o julgamento de Vinícius Leonardo Cardoso, acusado de tentativa de feminicídio de Simoni Aparecida Brandt Gross, sua companheira.
Os jurados reconheceram a autoria do crime e o mecânico acabou condenado a uma pena de seis anos em regime inicialmente semiaberto. Pesaram favoravelmente ao réu a suposta desistência de seguir com as agressões a faca contra Simoni e os bons antecedentes.
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Trata-se de um caso complexo, no qual o casal retomou o relacionamento após a tentativa de feminicídio, inclusive tendo mais duas filhas.
Na época do crime, cometido em março de 2018, Simoni tinha 28 anos e duas filhas, de 6 e 11 anos, com Vinicius. De acordo com o processo, a mais velha teria presenciado o atentado contra a mãe.
O julgamento foi adiado por três vezes e os depoimentos de hoje no Tribunal do Júri construíram a imagem do réu como um pai de família provedor e trabalhador. Simoni, por sua vez, classificou a si mesma como responsável por provocar a ira do companheiro que levou à tentativa de feminicídio.
Durante o período em que Vinicius esteve preso após a agressão Simoni chegou a pleitear ao Judiciário sua soltura, pois estaria enfrentando uma série de precariedades junto aos filhos.
Na avaliação do Observatório de Feminicídios, "a dependência econômica parece ser o fio condutor do caso, junto à normalização da violência de gênero, infelizmente tão costumeira na sociedade machista na qual estamos inseridas".
Néias considera adequada a condenação de Vinicius pela tentativa de feminicídio, comprovada nos autos. "Não cabe no contexto do caso discutirmos a dosagem da pena, mas a eficácia que a mesma pode ter na mudança de comportamento do réu e do casal. Parece-nos essencial o desenvolvimento de um trabalho de ressocialização com este homem para a superação de paradigmas machistas e violentos que colocam em risco a vida de sua companheira e a mantém na dependência econômica - e talvez emocional - dentro do relacionamento", pontua o Observatório.
Néias afirma, ainda, que "é importante que homens com histórico de violência entendam que outras formas de relacionamento são possíveis e que moralismos não os isentarão da culpa pelos crimes de gênero que venham a cometer. Reiteramos a necessidade de estruturação de programas educativos e de escuta para homens e, também, para as mulheres vitimadas, para que possam compreender e superar os contextos de vulnerabilidade em que estão inseridas".