Polícia

Entenda como funciona a lavagem de dinheiro do PCC em empresas de ônibus em São Paulo

13 abr 2024 às 20:00

Deflagrada na terça (9), a operação Fim da Linha tinha como objetivo desarticular uma organização ligada a duas empresas suspeitas de lavar dinheiro em São Paulo para a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital). O esquema movimentou R$ 732 milhões de 2020 a 2022.


A operação foi coordenada pelo Ministério Público de São Paulo, e teve participação da Receita Federal e da Polícia Militar. Quatro pessoas foram presas ainda na terça (9).


Na quarta (10), o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), do Ministério Público, denunciou 26 pessoas das empresas Transwolff e UPBus pela participação no esquema.


A Prefeitura de São Paulo nomeou dois interventores para conduzirem a operação dos ônibus enquanto duram as investigações. Entenda o funcionamento do esquema e o que se sabe até o momento.

QUAL É O ESQUEMA DENUNCIADO?


A operação Fim da Linha, foi deflagrada na terça-feira (9) contra duas empresas de ônibus com operação na cidade de São Paulo suspeitas de lavar dinheiro para a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital). Entre os objetivos estavam o cumprimento de 4 mandados de prisão e 52 de busca e apreensão. Segundo os promotores, havia indícios claros de cartelização.


QUAIS SÃO AS EMPRESAS ENVOLVIDAS?


Uma das empresas é a Transfwolff, e a outra, a UPBus. Segundo a SPTrans, a operação das duas mobiliza 1.500 ônibus, sendo a maior parte, 1.443 veículos, da Transwollf. A empresa faz o transporte de passageiros na zona sul da capital.


Já a UPBus realiza o serviço nas zonas norte e leste. Para comparação, a frota da cidade de São Paulo é de 13.289 veículos.


Juntas, as empresas receberam mais de R$ 800 milhões da Prefeitura de São Paulo em 2023 pelos serviços de transporte na cidade.


COMO FUNCIONA A LAVAGEM DE DINHEIRO?


O dinheiro "sujo" do PCC, de tráfico de drogas, roubos e outras atividades, era injetado em empresas de ônibus por meio de laranjas com experiência em ocultar patrimônio, segundo a Receita Federal. Essas pessoas aportavam capital ou faziam a aquisição de ônibus. Também havia o apoio de contadores.


Depois, as empresas distribuíam dividendos, mesmo que estivessem com prejuízo. Um dos sócios, por exemplo, recebeu R$ 14,8 milhões entre 2015 e 2022, período em que a empresa teve prejuízo acumulado de R$ 5 milhões.


Ainda, as empresas também se valiam de compensações tributárias fraudulentas, com créditos inexistentes, que somaram ao menos R$ 25 milhões. Após supostamente compensarem os valores, as empresas conseguiam participar de licitações.


Ao receberem os dividendos, integrantes da facção criminosa investiam os lucros em bens como carros de luxo e imóveis por meio de diversas empresas de participação e revendedoras. Muitos laranjas não tinham patrimônio que permitisse a compra ou a venda de imóveis com valores superiores a R$ 1 milhão, por exemplo.


QUEM FOI PRESO?

Quatro pessoas foram presas na terça-feira (9) -três delas a partir de mandados e uma em flagrante. Um deles, Luiz Carlos Efigênio Pacheco, conhecido como Pandora, é dono da Transwolff. Ele foi um perueiro clandestino antes de assumir o controle da empresa fundada pela mulher em 1987. Em 2006, então presidente da CooperPam, Pandora foi preso sob a acusação de ter financiado a tentativa frustrada de resgate de Nivaldo Eli Flausino Alves, irmão de Branco, líder do PCC à época, na Cadeia Pública de Santo André.

Já Robson Flares Lopes Pontes é um dos coordenadores das linhas que atendem Santo Amaro, Capão Redondo e Campo Limpo. Ele foi detido em casa, na zona sul.


Também foram presos Joelson Santos da Silva, sócio da Transwolff, e Elio Rodrigues dos Santos. Ele foi detido em flagrante por porte ilegal de arma durante buscas na sede da empresa.


Já Silvio Luiz Ferreira, o Cebola, suspeito de integrar o PCC, está foragido. Ele foi apontado como dono de 56 ônibus da UPBus. Ele seria responsável pela coordenação de atividades de tráfico.


A ligação de Cebola com a empresa é conhecida pelas autoridades há mais de uma década. Uma apreensão de meia tonelada de maconha, em 2012, aconteceu na garagem da cooperativa Paulistana G2, na zona leste da capital. A associação daria origem, no mesmo local, à Qualibus, que depois se tornou UPBus.


Ao todo, foram 26 pessoas denunciadas pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), do Ministério Público, por participação no esquema.


COMO FICA A CIRCULAÇÃO DE ÔNIBUS?


A prefeitura nomeou dois interventores -funcionários da SPTrans- para manter a circulação de ônibus. Na quarta (10), a Polícia Militar reforçou a segurança nas garagens das duas empresas, que transportam ao menos 700 mil passageiros por dia em São Paulo.


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