O escritor platinense João Neto tinha um sonho. Escrever um livro e mostrá-lo a duas pessoas: à mãe e a uma professora em especial. Com a obra ‘Além da Desilusão’ concluída, escrita em parceria com Antônio Jacob, ele se depara com uma frustração e um desafio. A mãe, Conceição Régio da Silva, morreu há mais de 30 anos. Já a professora Luzia de Oliveira Pereira, de 81 anos, sofreu perda total da visão recentemente.
Ele lamenta não poder contar com a presença da mãe no lançamento do livro, neste sábado (15), no Salão Paroquial da Igreja Matriz de Santo Antônio da Platina, município de 45 mil habitantes no Norte Pioneiro. "Sempre quis que minha mãe conhecesse meus textos, nem que fosse para dizer: 'não escreva palavrões'!”.
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Já em relação à Luzia, "João da Copel", como é conhecido na cidade, não se conformou. Decidiu que seria os "olhos" da professora que foi peça fundamental em sua trajetória. Para compartilhar a história que ela ajudou a construir, João teve a ideia de visitá-la todos os dias e fazer a leitura do livro, por duas horas, até chegar à última página.
"Muito mais do que as histórias emocionantes do livro, você não imagina o tamanho da minha felicidade. Aos 81 anos, em situações como essa, a gente se sente esquecida. A disposição de João Neto em ler para mim é um presente, e só posso agradecer. Eterna gratidão", retribui Luzia.
Professora aposentada, Luzia lecionou para João no curso Técnico de Segurança do Trabalho, no Senai de Santo Antônio da Platina, além de oferecer aulas particulares de literatura, interpretação de texto e redação. Os reforços foram essenciais para que João Neto se preparasse para os concursos públicos.
"A professora Luzia é minha estrela-guia. Antes mesmo de ser seu aluno eu tive contato com ela em cursinho de redação, literatura, interpretação de textos e toda gama de conhecimentos que a matéria sugere. Quando foi minha professora no Senai, linguagem técnica, eu já estava completamente encantado com ela", lembra. "Virei 'concurseiro', e minhas aprovações, na parte do Português, devo tudo a ela", enaltece.
Ele falou também sobre o prazer de ir até à casa da professora para fazer a leitura. "Donalou, assim a chamo, na verdade, é minha estrela guia, vocês não imaginam o prazer de fazer a leitura para ela, virou uma verdadeira contação de histórias, rimos muito, choramos outro tanto. Ela é pura luz".
O gesto comoveu a todos. Nas redes sociais, a atitude de João Neto gerou uma onda de admiração e respeito. Em tempos áridos, a demonstração de gratidão e carinho nos lembra que, apesar de tudo, ainda há esperança. Que mundo pode e deve ser levado a sério – mas sem nunca perder a ternura.
O troco do menino
Em 2017, João Neto, à época funcionário da Copel em Santo Antônio da Platina, viveu um momento marcante. Sua função exigia que ele cortasse a luz de clientes inadimplentes, algo que considera incômodo, principalmente em famílias carentes. Na semana do Dia das Crianças, ao ir até a casa de uma mãe com três filhos, na zona rural do município, atendeu seu pedido para não cortar a energia, pois ela pagaria a conta naquele dia. João explicou que poderia restabelecer a luz assim que o pagamento fosse feito.
Antes de sair, um dos filhos da mulher pediu R$ 1. João, sem moedas, deu uma nota de R$ 5, pedindo que fosse dividida entre os irmãos. Mais tarde, ao voltar para religar a energia, foi abordado pelo menino, que devolveu R$ 2, acreditando que o dinheiro deveria ser dividido igualmente. Comovido com a honestidade da criança, João contou a história nas redes sociais, gerando grande repercussão. Ele destacou como o gesto simples do menino reacendeu sua esperança na honestidade e na moralidade, valores tão escassos no país.
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