Pesquisar

Canais

Serviços

Publicidade
Publicidade
Publicidade
História de uma vida

Em 'Aquarius' paranaense, aposentada de Curitiba se nega a vender apartamento a incorporadora de Londrina

Jess carvalho - Folhapress
21 abr 2024 às 16:17

Compartilhar notícia

- Roberto Dziura Jr/AEN
siga o Bonde no Google News!
Publicidade
Publicidade

"Eu me sinto violada. A casa é como o corpo da gente", diz a aposentada Maria Juracy Aires, 69, olhando para as marcas de mãos humanas que se arrastam pelas paredes da sua casa própria, comprada em 1979. 


O imóvel, assim como todo o edifício no bairro Cabral, está totalmente depredado pelas sucessivas invasões de vândalos.

Cadastre-se em nossa newsletter

Publicidade
Publicidade


Ela é a única que resiste a vender o imóvel a uma construtora. A Plaenge Empreendimentos adquiriu os demais sete apartamentos do prédio de quatro andares. Aires também recebeu propostas de compra, mas se recusa a vender o seu apartamento.

Leia mais:

Imagem de destaque
Projeto ainda está no papel

Ibiporã continua à espera de ambulatório veterinário

Imagem de destaque
Região

Homem é preso com peixes e patas de capivara em Operação Piracema em Jaboti

Imagem de destaque
Norte Pioneiro

Veículo de Londrina se envolve em colisão com morte em Ibaiti

Imagem de destaque
Sessenta formandos

Apucarana promove formatura de curso de formação em Libras


Enquanto tenta na justiça que a construtora divida as despesas do condomínio com ela, o prédio é alvo de invasões cotidianas.

Publicidade


Procurada, a Plaenge informou que não ia se manifestar sobre o caso. No âmbito do processo, em uma contestação na primeira instância, em fevereiro deste ano, a construtora disse que a conservação do prédio demanda aprovação em assembleia.


No documento, a construtora diz que as assembleias condominiais foram extintas desde que a construtora começou o processo de compra dos apartamentos.

Publicidade


A Plaenge também argumenta que uma edificação "total ou consideravelmente destruída" pode ter sua venda deliberada em assembleia. "Sendo franco: a autora sabe que não conseguirá fazer prevalecer sua vontade em uma assembleia na qual será minoria", aponta trecho da peça apresentada pela construtora. O processo corre na 9ª Vara Cível de Curitiba.


As semelhanças com o enredo de Aquarius (2016), filme franco-brasileiro, escrito e dirigido por Kleber Mendonça Filho e protagonizado por Sônia Braga, são inegáveis.

Publicidade


Maria manteve seu apartamento na capital do Paraná, habitado até meados de 2022, quando sua última inquilina encerrou o contrato. Assim que o prédio ficou vazio, invasores furtaram o sistema de segurança que ela havia mandado instalar.


Não demorou muito para que grades, portas, janelas, esquadrias e até mesmo a fiação do prédio também fossem levadas embora. Também foram levados aquecimento de gás, tubos, botijões e torneira.

Publicidade


Ao perceber o arrombamento, a aposentada chamou a Polícia Militar. "Isso aí é morador de rua. Enquanto o prédio estiver vazio, eles vão continuar entrando", disse um dos oficiais, segundo Aires, recomendando que ela buscasse acordo com a construtora para contratar um serviço de segurança privado. O boletim de ocorrência foi encaminhado para a Polícia Civil e o caso segue em investigação.


Pela cotação da aposentada, o serviço de segurança custaria R$ 300 diários, o que ficaria inviável financeiramente para ela.

Publicidade


Apagamento de uma história


Aires comprou seu apartamento aos 25 anos, com dez notas promissórias e vinte anos de financiamento pela Caixa Econômica Federal. A primeira ideia, conta, seria abrigar a mãe quando ela se separou.

Publicidade


O condomínio foi escolhido por causa do amplo jardim, onde ela e a mãe plantaram as árvores frutíferas que hoje tomam o terreno. "Quando a gente olhava daqui para o centro, a única coisa alta que se via era a torre da Igreja do Cabral. Hoje em dia, o bairro está cheio de prédios chiques, mas nenhum tem o espaço que a gente tem aqui", diz a aposentada.


Os três filhos de Maria nasceram e cresceram no apartamento, e os álbuns de família ainda guardam as memórias das festas na garagem e das brincadeiras no quintal.


Depois que se mudou para socorrer a mãe, que não conseguia mais subir as escadas do prédio, o imóvel serviu de moradia para seus filhos e guardou os primeiros anos de seu neto.


"Eu sempre cuidei desse espaço com muito carinho porque ele nos deu muito retorno em acolhimento", conta.


Seu sonho, diz, sempre foi viver a velhice no prédio, respirando um pouco de ar puro e usufruindo de seu direito à memória. É por isso que, mesmo com a saúde frágil, Maria reafirma que o apartamento não está à venda.


Em tratamento de um câncer que se espalhou pela língua e pela garganta, a aposentada conta sentir medo de não conseguir mais falar da situação que sente ser injusta com seu imóvel.


Na opinião de Bruno Meirinho, advogado que representa Maria Aires, a deterioração do prédio começou na compra dos imóveis, em 2017, a fim de revitalizar o espaço posteriormente. "A ideia de que uma parte da cidade precisa ser destruída para ser reconstruída. Isso é um baita negócio", afirma.


Em 2023, eles notificaram extrajudicialmente a construtora, pedindo para que ela mantivesse suas propriedades habitadas e contribuísse com a manutenção do condomínio, mas receberam propostas de compra como resposta.


Foi quando decidiram mover uma ação contra a construtora, alegando que a empresa está desviando a finalidade dos apartamentos ao não destiná-los à moradia.


"Os interesses financeiros não podem prevalecer sobre o direito que a pessoa tem à sua própria moradia, à sua própria história e aos seus vínculos com o lar", afirma o advogado.


Publicidade

Últimas notícias

Publicidade
LONDRINA Previsão do Tempo