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Julgamento

Depoimentos reforçam motivação política para morte de petista, e bolsonarista nega

Catarina Scortecci - Folhapress
12 fev 2025 às 10:10

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Reprodução/Facebook
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O júri do ex-policial penal bolsonarista Jorge Guaranho, que matou o guarda municipal petista Marcelo Arruda em 2022, em Foz do Iguaçu (PR), começou na manhã desta terça-feira (11), em Curitiba, e contou com quatro depoimentos, incluindo o da viúva, de um vigilante e de um amigo da vítima. As declarações reforçaram a acusação de motivação política do crime.

Já a defesa do réu buscou afastar essa tese e dizer que Guaranho reagiu ao se sentir ameaçado.

Pamela Silva, companheira de Marcelo, disse em respostas à promotora de Justiça Ticiane Louise Santana Pereira que ele se relacionava bem inclusive com amigos e familiares que não eram simpáticos ao PT.

"Ele tinha 28 anos como guarda municipal e, dentro da corporação, era minoria. As pessoas até se referiam a ele como o PT, o petista, de brincadeira", disse Pamela, que é policial civil, atualmente cedida ao setor de inteligência da Itaipu Binacional.

Além de pertencer aos quadros da Guarda Municipal, Marcelo era tesoureiro do PT em Foz do Iguaçu e diretor jurídico do sindicato dos servidores do município. Pamela e ele tiveram dois filhos. Marcelo tinha outros dois filhos do relacionamento anterior.

Todos os quatro filhos estavam na comemoração dos 50 anos do pai, quando o crime aconteceu, em 9 de julho. A decoração da festa fazia alusão ao PT, com balões vermelhos e camiseta com o rosto do presidente Lula, então candidato.

Guaranho é acusado pelo Ministério Público estadual de homicídio duplamente qualificado, por motivo fútil (divergência política) e perigo comum (os tiros podiam ter atingido outras pessoas no ambiente).

Nesta terça, as imagens do momento do crime, registradas pelas câmeras de segurança do local da festa, foram exibidas para Pamela, que foi narrando os fatos.

Ela foi a primeira a tentar impedir a entrada de Guaranho, mostrando o distintivo a ele. "Eu disse a ele que era uma festa de família, uma festa privada. Achei que era possível um diálogo. Não tinha pensado em pegar a minha arma", afirmou ela, que tem o porte de arma, como policial civil.

Naquele horário, por volta das 23h30, a festa já estava no fim, segundo Pamela. "Tinham umas 15 pessoas. Metade dos convidados já tinham ido embora. Ele não se identifica como policial penal, nem diz quem é", disse ela.

Quando as imagens avançaram para os disparos contra Marcelo, Pamela chorou e precisou de alguns minutos para tomar água. "É muito difícil, mas vamos lá", disse ela.

A policial civil voltou a se emocionar ao final, ao narrar o socorro ao marido, já dentro da ambulância.
Pamela foi a primeira a depor no júri, logo após a formação do Conselho de Sentença, com sete jurados sorteados, quatro mulheres e três homens.

O júri é conduzido pela juíza Mychelle Pacheco Cintra Stadler, da 1ª Vara Privativa do Tribunal do Júri da capital paranaense, e pode durar até quinta-feira (13).

Depois de Pamela, o vigilante Daniele Lima dos Santos prestou depoimento e confirmou ter ouvido quando Guaranho gritou "aqui é Bolsonaro, porra", ao passar de carro "com tudo", segundo ele, pela portaria do local da festa.

No depoimento, ele chorou ao relatar que sofreu "muita pressão" de bolsonaristas que o criticaram pelas informações que levou ao caso. "Eu só estava fazendo meu serviço", disse ele.

A defesa do réu, capitaneada no júri pelo advogado Ércio Quaresma, tentou explorar fragilidades no depoimento do vigilante, que disse não se lembrar mais de todos os detalhes.

Ao longo dos depoimentos, a defesa do réu também atuou para tentar mostrar que Guaranho só teria agido depois de ver, ao fundo, que Marcelo apontava uma pistola contra ele.

"Ele não desce do carro com arma em punho. Somente quando ele vê Marcelo. Ele só meteu a mão na cintura e puxou a arma quando ele percebeu que tinha uma pistola apontada para ele", afirmou o advogado.

Pamela estava de costas para Marcelo, tentando falar com Guaranho, e disse ao ser questionada no júri que "não sei dizer quem saca primeiro".

"É um momento muito rápido. Ele chega bruscamente com seu veículo, desce do carro, dá dois passos e saca a arma", declarou ela.

A tese da defesa é de que, se a intenção de Guaranho fosse de fato "matar todos os petistas", ela própria teria sido alvejada. "A senhora estava na linha de tiro dele", continuou Quaresma.

A defesa do réu também mencionou mais de uma vez as lesões sofridas por Guaranho, geradas pelos chutes, quando ele já estava no chão ferido com tiros. A insistência nesse ponto gerou bate-boca entre defesa e acusação.

Do lado de fora do prédio do júri, familiares e amigos do petista organizaram uma manifestação com faixas e fotos, pedindo a condenação do réu.

O terceiro depoimento desta terça foi da perita criminal Denise de Oliveira Carneiro, responsável pelo laudo sobre as imagens do caso. Ela confirmou que Guaranho e Marcelo fizeram "visadas simultâneas", ou seja, apontaram a arma ao mesmo tempo.

Mas, de acordo com as imagens, ela explica que é possível afirmar que os três tiros disparados por Guaranho foram feitos antes dos seis tiros disparados por Marcelo. Mesmo ferido e já caído no chão, Marcelo conseguiu disparar contra Guaranho.

Quarta e última testemunha desta terça, Wolfgang Vaz Neitzel, amigo de Marcelo que estava na festa, disse no júri que a chegada de Guaranho causou estranheza, já que ninguém o conhecia.

Wolf afirma que, na primeira vez que o então policial penal passou na festa, ele gritou "aqui é Bolsonaro" e disse que "voltaria para matar todo mundo".

Foi ele quem também diz ter escutado o jingle de campanha de Bolsonaro, de 2018, vindo do som do carro de Guaranho.

A sessão de julgamento desta terça se encerrou pouco antes das 21h30. Outras testemunhas serão ouvidas nesta quarta-feira (12), a partir das 9h. Em seguida, Guaranho deve ser interrogado.

O CRIME

Marcelo levou dois tiros de Guaranho, que invadiu a festa.

O guarda municipal caiu ferido e chegou a reagir, disparando contra seu agressor, mas não resistiu aos ferimentos. Ele morreu na madrugada do dia 10 de julho.

Guaranho foi internado em um hospital e depois teve a prisão preventiva decretada. Em setembro de 2024, ele obteve uma decisão judicial que o permitiu migrar para a prisão domiciliar.

Antes de o julgamento começar nesta terça, Pamela afirmou à reportagem que "existe uma ação penal farta de provas" e que espera pela condenação de Guaranho.

"Que a sociedade curitibana veja os fatos como eles realmente são e seja justa e consciente", disse ela. "É somente um fato. Estávamos comemorando o aniversário e essa pessoa invadiu a festa. Houve uma motivação política", diz ela.

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