Cerca de 60% das mortes violentas registradas em Cambé e Arapongas (Região Metropolitana de Londrina) em 2024 foram resultado de intervenções policiais, apontou o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado nesta quinta-feira (24) pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Os dois municípios da Região Metropolitana de Londrina apareceram na quarta e quinta posição do ranking. Cambé anotou um percentual de 61,9% e Arapongas, na sequência, 58,8%. As paranaenses foram destaques ao lado de três cidades da região Nordeste do país, quatro do Sudeste e dois do Norte.
A lista - que considerou apenas os municípios com 100 mil habitantes ou mais - pode ser conferida na íntegra a seguir.
Municípios em que as mortes decorrentes de intervenção policial representam mais de 50% das mortes violentas em 2024:
1º Itabaiana (SE) 75,6%
2º Santos (SP) 66,1%
3º São Vicente (SP) 66,1%
4º Cambé (PR) 61,9%
5º Arapongas (PR) 58,8%
6º Eunápolis (BA) 58,2%
7º Angra dos Reis (RJ) 55,0%
8º Nilópolis (RJ) 53,8%
9º Santo Antônio de Jesus (BA) 52,4%
10º Cametá (PA) 51,9%
11º Abaetetuba (PA) 51,2%
O perfil de quem morre
O Anuário também apontou que o risco de uma pessoa negra ser morta em confrontos policiais no Brasil é 3,5 vezes maior que o de uma pessoa branca. O documento chamou atenção para a disparidade das taxas, evidenciando a predominância de pessoas negras entre as vítimas de letalidade policial no Brasil.
Com relação às idades, jovens de de 18 a 24 são a maioria dos mortos, representando 9,6%. Na sequência, adultos de 25 a 29 anos (7,3%), seguidos do grupo de 30 a 34 anos (4,4%) e 35 a 39 anos (2,6%).
Confira o Anuário completo aqui.Uso de arma é último recurso, diz SESP
A SESP (Secretaria Estadual de Segurança Pública) ressaltou, em nota enviada ao Portal Bonde, que as forças de segurança do Paraná "seguem rigorosos protocolos de treinamento para o uso escalonado e diferenciado da força".
Entretanto, de acordo com a pasta, "situações de confronto armado são um risco constante enfrentado pelas polícias em todo o mundo, especialmente no combate ao crime organizado e na proteção da população. Nesses casos, o uso de arma de fogo ocorre exclusivamente como último recurso, diante de uma agressão injusta e iminente contra policiais ou terceiros".
A secretaria também salientou que todos os casos de mortes em confrontos com policiais são investigados seguindo os trâmites legais.
"Cabe ressaltar ainda que os números do Anuário mostram que em 2024 os casos de homicídios dolosos caíram 10% e o número de roubos diminuiu 23,7% no Paraná. Além disso, o Paraná não tem nenhum município entre os mais violentos do País e está entre os seis com as menores taxas de mortes violentas intencionais, bem melhor que a média nacional", finalizou a nota da Sesp.
Sociedade doente, diz prefeito
A reportagem entrou em contato com a Prefeitura de Cambé para questionar a presença do município no ranking. O prefeito, Conrado Scheller, disse, por meio do meio da assessoria de imprensa, que a violência é consequência da falta de políticas públicas
"Quando uma vida se perde, seja por crimes ou em confrontos policiais, isso reflete uma sociedade doente, que precisa de mais atenção, cuidado. Aqui, em Cambé, nós jamais comemoramos a morte de qualquer pessoa, independentemente da circunstância. E absolutamente não apoiamos nenhum tipo de execução", afirmou, salientando, entretanto, que, "em algumas situações, o criminoso tem a escolha de se entregar e evitar o confronto".
Para Scheller, a prioridade sempre serão os policiais, pois "são eles que protegem as famílias de Cambé". "Vamos sempre torcer pela segurança de quem está na linha de frente para nos defender. Mas também precisamos deixar claro que, como sociedade, a solução para a violência não está apenas no confronto, mas em ações mais amplas, que envolvem a prevenção, a inclusão e a transformação social", disse, salientando que a prefeitura busca soluções mais humanas e eficazes para que a cidade seja mais segura.
A Prefeitura de Arapongas também foi procurada para se posicionar sobre a letalidade policial no município, mas não quis se manifestar, porque, segundo o secretário de Segurança Pública, "as mortes ocorreram em situações com a PM (Polícia Militar), que é estadual, e não envolveram a GM (Guarda Municipal)".
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