Uma semana após a publicação da reportagem do Portal Bonde denunciando um suposto descumprimento de leis trabalhistas na empresa terceirizada do Estado PH Recursos Humanos, os funcionários seguem, ainda, com os mesmos problemas de antes e sem nenhuma informação por parte do governo do Paraná, da empresa ou até mesmo do sindicato da área, o Siemaco (Sindicato dos Empregados em Empresas de Asseio e Conservação).
Entre as reclamações, estão a falta de pagamento de dois salários
corrigidos; descontos indevidos por faltas de funcionários, que afirmam
nunca ter faltado; ausência de ajuste no vale-transporte, que não foi corrigido depois dos aumentos do início do ano em várias cidades;
pagamentos desproporcionais de férias; depósitos do FGTS (Fundo de
Garantia do Tempo de Serviço) pela metade e com decréscimo a cada mês;
além do não cumprimento de outro acordo, que garante que a empresa não
desconte o vale-alimentação no período de férias.
A PH Recursos Humanos negou, em nota, todas as acusações. O governo do Paraná, por meio da Seed-PR (Secretaria de Estado da Educação e do Esporte), questionado com as provas apresentadas pelos funcionários, deu cinco dias para a terceirizada se defender, prevendo, inclusive - caso as provas não fossem suficientes -, uma instauração de um processo administrativo.
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Dada a resposta da assessoria de imprensa da Seed-PR, os trabalhadores da empresa citada tinham a esperança que, após o prazo de cinco dias, as coisas melhorassem ou, pelo menos, uma resposta oficial fosse enviada. No entanto, a PH Recursos Humanos segue sem atender quem a procura e não enviou nova nota à reportagem, que busca respostas desde segunda-feira (16), data em que encerrou o prazo dado para explicações.
Também procurada desde segunda-feira (16), a assessoria da Seed-PR afirmou que "a empresa respondeu no início da semana e parte das questões já estão sendo solucionadas. Em outras [partes], a secretaria solicitou mais detalhes para compreender melhor a situação e fazer o encaminhamento necessário".
Novas denúncias
Depois da publicação da reportagem, diversas denúncias contra a mesma empresa surgiram. Uma ex-funcionária, que não quis se identificar, diz que a PH Recursos Humanos foi o pior lugar que ela já trabalhou em toda a sua vida.
"Trabalhei lá na limpeza por dois anos. Me fizeram de boba. Deixei na mão do sindicato do trabalho, mas até hoje nunca recebi nada. Trabalhei para várias empresas, sabe? Mas a PH foi a pior", conta.
Conforme o relato da ex-funcionária, o problema com a empresa não é recente, já que ela saiu da terceirizada há cerca de cinco anos. Ela diz que atuava na Copel (Companhia Paranaense de Energia), que contratou os serviços da PH.
O maior problema, segundo a ex-funcionária, foi relativo ao FGTS. "Recebi só um pouquinho [do FGTS] porque eles não depositaram. Na hora de mandar embora, a quantia vinha faltando. No acerto acho que ficou uns R$ 2 mil para trás. Isso é bem complicado", relembra.
Os empregados não tinham problemas somente com o Fundo de Garantia. Ela recorda que, para receber os vales, eles tinham, por muitas vezes, que fazer reclamações constantes. "Às vezes, vinha atrasado [os vales], mas tinha muitas reclamações, pois íamos atrás da Copel, na época, para resolver."
Mesmo passando meia década da demissão, a ex-funcionária ainda tem esperança em receber o que lhe é de direito. De acordo com ela, a causa está nas mãos do sindicato da categoria, a Siemaco.
Medidas
Ainda trabalhando na PH, uma funcionária teme que a empresa tome medidas para se livrar das acusações. Isso se deve ao fato de a terceirizada ter pago o FGTS do mês de dezembro corretamente, depois da reportagem feita pelo Portal Bonde.
"Os funcionários que conseguiram consultar o saldo do FGTS falaram que estava correto o depósito de dezembro. Provavelmente eles pagaram certo o de dezembro para apresentar a prestação daquele mês, mostrando que estão pagando corretamente", supõe.
A funcionária relata que "não aguenta mais descaso da empresa com os funcionários" e que deve tomar medidas judiciais quando for demitida.
"Provavelmente eu vou entrar [na Justiça], só que depois de sair da empresa, porque tem muita coisa errada. Todas as informações que passei [à reportagem] eu enviei por e-mail para a empresa, pedindo uma explicação, mas só me responderam que iriam encaminhar para o setor responsável e nunca mais entraram em contato", justifica.
Ela também critica a inércia do sindicato, que não sana as dúvidas de quem procura respostas. "Entramos em contato com o sindicato, mas não tivemos ajuda. Inclusive, falaram que a empresa poderia pagar o FGTS quando forem fazer o acerto. Sempre que ligamos lá eles não sabem informar nada", reclama.
Feaconspar se pronuncia
A Feaconspar (Federação dos Empregados em Empresas de Asseio e Conservação do Paraná), entidade que representa os sete sindicatos no Estado, emitiu uma nota sobre a situação. Eles comunicaram, depois de uma reunião feita na última segunda-feira (16), que "o descumprimento dos direitos dos trabalhadores previstos em convenção coletiva de trabalho e ações antissindicais, que têm sido praticadas por empresas contratadas pelo governo do Paraná, foram assuntos tratados pelos Siemacos".
Segundo a federação, "o descaso acontece em diversas empresas que assumiram contratos junto ao governo como a PH, a Produserv, a RCA e outras". Ainda segundo a nota, ficou definido na reunião que os Siemacos façam levantamento em suas bases para apurar denúncias e reunir documentos para formalização de denúncia junto ao Ministério Público do Trabalho.
*Sob supervisão de Fernanda Circhia