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Paraná pode sofrer com enchentes e secas em todos os municípios a partir de 2061, aponta estudo do Simepar

14 mar 2025 às 11:02

Todos os municípios do Paraná poderão enfrentar vulnerabilidade a períodos de enchentes e secas a partir de 2061. A projeção, feita pelo Simepar (Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná), integra um estudo do Programa Paranaense de Mudanças Climáticas, o Paranaclima, que analisa a emissão e o impacto dos gases de efeito estufa no Estado.


O levantamento, realizado em convênio com a Sedest (Secretaria Estadual de Desenvolvimento Sustentável), mede a resiliência dos municípios paranaenses com base em dados históricos de 1850 a 1900, no cenário de 2014 até o presente e em projeções até 2100. O estudo reforça o planejamento do Estado em sustentabilidade, sendo o Paraná eleito nos últimos quatro anos o mais sustentável do Brasil pelo Ranking de Competitividade dos Estados.


Com base em dados da Defesa Civil, o levantamento, iniciado em 2016 e concluído em 2023, detalha as emissões de gases e a projeção de vulnerabilidade para desastres climáticos em cada município.


Mesmo em um cenário de baixas emissões radiativas, entre 2031 e 2060, algumas cidades estarão mais vulneráveis a eventos climáticos extremos, como tempestades e enchentes. Entre elas estão Santa Isabel do Ivaí, Planaltina do Paraná, Nova Londrina, Cafezal do Sul, Francisco Alves e Nova Santa Bárbara. Caso as emissões aumentem, o risco de fortes chuvas crescerá na maior parte do Estado, elevando a vulnerabilidade de baixa para média ou alta. Entre 2061 e 2090, todas as cidades do Paraná enfrentarão algum nível de vulnerabilidade a enchentes e deslizamentos.


O cenário para secas segue a mesma tendência. Entre 2031 e 2060, os municípios mais vulneráveis a longos períodos de estiagem serão Laranjal e Nova Santa Bárbara. Se houver aumento nas emissões, outras cidades como Santa Cecília do Pavão, Santa Mariana, Bela Vista do Paraíso, Cruzeiro do Sul, Guairacá, Rosário do Ivaí, Ivaiporã e Iretama entrarão na lista de alta vulnerabilidade. Entre 2061 e 2090, a projeção indica que todo o Estado estará em situação de vulnerabilidade média ou alta para secas.


A composição do solo também influencia esses eventos. “A região do Baixo Ivaí, por exemplo, tem um solo do tipo latossolo arenoso-médio, que possui baixa absorção de água e, portanto, é mais sujeito à erosão. Já as regiões metropolitanas, como Curitiba, Cascavel, Maringá e Londrina, registram os maiores casos de desastres por excesso hídrico”, explica Reinaldo Silveira, pesquisador do Simepar e membro da Organização Meteorológica Mundial (OMM).


Silveira, que possui Ph.D. em Matemática Aplicada pela Universidade de Essex (Reino Unido) e doutorado em Ciências Atmosféricas pela Universidade de São Paulo, reforça que os dados do Paranaclima são fundamentais para que a população compreenda as mudanças climáticas e seus impactos. Ele destaca a necessidade de ações governamentais para mitigar as emissões de gases, como a criação de parques urbanos com preservação de matas e incentivo ao transporte público e solidário.


“O planejamento deve envolver um engajamento social, com chamadas públicas para a criação de planos de ação governamental”, ressalta o pesquisador.


Preocupação com saúde pública


As mudanças climáticas não afetam apenas o regime de chuvas, mas também a saúde pública. O aumento da temperatura favorece a proliferação de vetores de doenças como dengue e chikungunya, enquanto o frio extremo e a poluição agravam problemas respiratórios.


“A frequência de eventos climáticos tem aumentado, embora nem sempre em intensidade. As características do clima incluem elevações de temperatura, excesso de calor e umidade, além de maior potencial para tempestades. Quando falamos em mudanças climáticas, estamos lidando com projeções de longo prazo”, acrescenta Silveira.


O planeta já registra uma elevação de 1,36°C na temperatura média global. Caso as emissões de gases de efeito estufa permaneçam no ritmo atual, a temperatura poderá subir 2°C até 2100. Em um cenário mais extremo, o aumento pode chegar a 4,8°C.


Esse panorama reforça a importância da conscientização sobre as mudanças climáticas. Por isso, o dia 16 de março é lembrado anualmente como o Dia Nacional de Conscientização Sobre as Mudanças Climáticas. Os principais gases de efeito estufa são o dióxido de carbono (CO2), o metano e o óxido nitroso, sendo o CO2 responsável por mais de 70% das emissões globais. Como muitas atividades humanas aumentam a liberação desses gases, a camada protetora da atmosfera se torna mais espessa, retendo mais calor e intensificando o aquecimento global.

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