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Em experimento com camundongos, cientistas conseguem reverter envelhecimento celular

03 fev 2025 às 17:33

Uma nova pesquisa conseguiu reverter o envelhecimento celular em camundongos utilizando um tratamento com fragmentos de material genético regenerativos. O trabalho saiu no último dia 15 na revista especializada Cell.


O estudo envolveu pesquisadores de instituições na China. Eles são da Academia Nacional de Ciências, em Zhengzhou, do Instituto de Biofísica da Academia de Ciências de Pequim, do Instituto Biomédico de Taisheng e do Hospital Internacional da Universidade de Medicina Tradicional Chinesa, em Xangai.


No experimento, os cientistas extraíram exossomos (pequenas vesículas que transportam substâncias entre as células) de embriões humanos contendo fragmentos de RNA conhecidos como miR-302b e injetaram em 30 camundongos adultos. Outros 30 receberam exossomos humanos normais; uma parte também ganhou apenas soro para controle.


Esses fragmentos, chamados de microRNAs, ligam-se ao DNA intracelular dos roedores e bloqueiam a expressão de genes associados à morte celular (Cdkn1a Ccng2). Ao mesmo tempo, aumentam a expressão de outros genes envolvidos na divisão celular.


Como resultado, os cientistas conseguiram parar o processo de envelhecimento celular, ao que deram o nome de senoreversão.


O envelhecimento em todos os organismos vivos ocorre principalmente por um processo conhecido como senescência celular, que define o tempo de vida das células. Células senescentes (ou "envelhecidas"), por diversos fatores, não conseguem mais completar os processos de divisão celular e morrem. Ao longo dos anos, a morte celular pode, por exemplo, causar o envelhecimento de tecidos e o surgimento de fios de cabelo brancos.


Já era sabido que um dos motivos que levam à senescência é o acúmulo de proteínas envolvidas na inflamação celular, como as citocinas. Quanto maior o acúmulo dessas substâncias, mais rápida será a morte celular. Porém, até então, não foi possível retardar esse processo sem ter efeitos colaterais também para o organismo, como risco aumentado de câncer -já que essas proteínas também atuam no controle de células tumorais.


A grande sacada dos pesquisadores chineses foi utilizar os exossomos com miR-302b, que desempenham um papel essencial na reprogramação celular, na diminuição da inflamação e na proliferação celular. Além disso, em longo prazo, o tratamento prolongou a vida útil de camundongos, fez crescer pelos onde já havia falhas na pelagem, aumentou a capacidade cognitiva e retardou o processo de envelhecimento dos roedores.


O professor do laboratório nacional de biomacromoléculas do Instituto de Biofísica e autor sênior do estudo, Guangju Ji, disse à reportagem que o miR-302b oferece uma vantagem frente a estratégias tradicionais que eliminam células senescentes (senolíticos) ou suprimem a ação de secreção destas (senomórficos).


"Ao contrário dos senolíticos, que podem causar danos teciduais, a nossa molécula restaura a capacidade proliferativa celular, promovendo a regeneração tecidual. Já comparado aos senomórficos, que apenas reduzem efeitos inflamatórios, o miR-302b reverte diretamente a senescência ao nível molecular ao direcionar Cdkn1a Ccng2, rejvenescendo as células e melhorando a saúde sistêmica", afirmou.


O estudo abre portas para pesquisas sobre doenças ligadas ao envelhecimento e à degradação de tecidos, como Alzheimer e doenças cardiovasculares. "A capacidade do miR-302b de reverter a senescência celular e restaurar a capacidade proliferativa o torna altamente aplicável a doenças relacionadas à idade, incluindo distúrbios neurodegenerativos e doenças cardiovasculares, áreas que já temos pesquisas em andamento."


Em termos de efeitos colaterais, não foi verificado um aumento no risco de aparecimento de tumores nos camundongos tratados com os microRNAs em comparação ao grupo que não recebeu a substância. Os animais foram analisados por um período de dois anos e meio.


Os autores afirmam que a técnica de senoreversão pode ser uma boa estratégia de rejuvenescimento celular sem efeitos cancerígenos a longo prazo observáveis em células embrionárias in vitro e em modelos de animais em laboratório.


"Os resultados sugerem que o miR-302b poderia ser uma estratégia transformadora para o envelhecimento humano e a longevidade ao reverter a senescência celular, um fator chave do declínio relacionado à idade", disse Ji.


Segundo o pesquisador, os próximos passos do estudo se concentram em levar a molécula para a aplicação clínica, com estudos em primatas não humanos já em andamento para avaliar efeitos em doenças degenerativas.


"Além disso, estamos planejando um ensaio iniciado por investigadores (IIT) em humanos, visando uma condição específica relacionada ao envelhecimento como a primeira aplicação terapêutica do miR-302b", afirmou.

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